Teresa Campos
Teresa Campos
02 Nov, 2018 - 12:54

PFOA: já ouviu falar? Descubra os seus perigos

Teresa Campos

Desde há alguns anos, o PFOA entrou na ordem do dia, devido a estudos que o indicam como potencialmente nocivo para a saúde. Fique a saber tudo.

PFOA: já ouviu falar? Descubra os seus perigos

A agência norte-americana para a Protecção do Ambiente classificou o PFOA como um produto “provavelmente cancerígeno”. Desde aí que esta substância química tem sido, progressivamente, banida dos vários produtos onde era utilizada e, também, eliminada do meio-ambiente, onde entrou por meio de gases tóxicos e da poluição da própria água.

Se nunca ouviu falar do PFOA ou não sabe exatamente do que se trata, explicamos-lhe tudo e mostramos-lhe porque, pelo sim pelo não, é preferível evitar a exposição a este componente químico.

PFOA: principais estudos e potenciais perigos

PFOA

O que é?

PFOA refere-se ao ácido perfluoro-octanóico, um composto químico utilizado no fabrico de produtos domésticos comuns, como lubrificantes, ceras, revestimentos de papel, embalagens de alimentos, entre muitos outros objetos. Por exemplo, as frigideiras antiaderentes possuem, muitas vezes, esta substância capaz de criar uma superfície escorregadia interna e com acabamento antiaderente.

Porém, estudos têm vindo a mostrar a perigosidade deste componente e a sua relação com alguns problemas de saúde. Daí, a cada vez mais frequente existência de produtos PFOA free, ou seja, produtos livres desta substância química.

Estudos em animais

Os possíveis perigos para a saúde, advindos do PFOA, têm tido por base, na grande generalidade, estudos feitos em animais. Estas pesquisas têm revelado alterações graves nos órgãos, nomeadamente de ratos. O cérebro, a próstata, o fígado, e os rins destes animais apresentam elevados níveis de toxicidade, relacionados com a exposição a este componente químico. Muitos filhotes de ratos acabam mesmo por morrer, devido à exposição a esta substância química.

No caso dos ratos fêmea são, ainda, registadas alterações na hipófise, glândula responsável por controlar o crescimento, a reprodução e muitas outras funções metabólicas. As alterações na sua dimensão são, também, indicador de toxicidade. A presença de PFOA tem, ainda, sido associada ao surgimento de tumores em, pelo menos, quatro órgãos diferentes dos animais testados.

O caso das frigideiras anti-aderentes

frigideiras

Quando falamos em PFOA é muito frequente pensarmos nas frigideiras anti-aderentes. Embora esta substância química esteja, como vimos, presente numa infinidade de produtos, as frigideiras anti-aderentes, também conhecidas como de Teflon, levantam mais preocupações e é fácil perceber o porquê.

Além de terem ganho grande popularidade e muitos de nós ainda ter um exemplar delas em casa, estas frigideiras, quando aquecidas, atingem rapidamente temperaturas capazes de libertar gases tóxicos para o ar. O seu revestimento começa a quebrar e libertar toxinas assim que atinge uma temperatura de 230ºC. Também o PTFE – polímero, espécie de plástico, cuja fórmula contém carbono e flúor – se decompõe a partir dos 342ºC graus Celsius, dando origem a uma variedade de produtos, entre eles, o PFOA.

Além destes componentes que, como já vimos, são potencialmente prejudiciais para a saúde, o sobreaquecimento destes utensílios gera ainda radicais livres reativos que podem produzir muitas substâncias nocivas, contaminando não só os alimentos, como o ar.

Os gases oriundos da degradação do PTFE são altamente tóxicos e nas aves, por exemplo, podem causar o rompimento de pequenos vasos sanguíneos, hemorragia pulmonar e morte. Também já existem estudos que relatam dificuldades respiratórias em seres humanos, após o uso contínuo de frigideiras de Teflon. É ainda útil frisar que todo este cenário se torna mais gravoso e preocupante em frigideiras que já apresentem algum desgaste, nem que seja um mero arranhão ou risco.

Água potável

Como referimos, o PFOA encontra-se um pouco por todo o lado, incluindo na própria água potável e, também neste caso, têm sido feito um esforço para banir este componente. Notícias recentes, de 2017, dão mesmo conta de um novo material capaz de remover este poluente da água potável para níveis ainda mais inferiores aos até agora conseguidos.

Uma equipa liderada pela Northwestern University identificou um material barato e renovável que remove rapidamente o componente químico da água, conseguindo eliminar o micropoluente abaixo de 10 partes por trilhão – valores muito abaixo dos limites estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental (EPA).

Esta solução inovadora consiste num polímero em rede, feito com base na união de moléculas menores com poros minúsculos. A seletividade é programada no material através de um monómero reticulado. O seu principal componente, a beta-ciclodextrina, é uma molécula de açúcar bio-renovável, de origem natural, derivada do amido de milho.

1. Artrite

Uma investigação da Escola de Medicina da Universidade de West Virginia concluiu que 40% dos 50.000 habitantes da região tinham maior probabilidade de desenvolverem artrite, fruto da sua exposição a maiores níveis de PFOA.

2. Doenças cardiovasculares

Também a Universidade de West Virginia estabeleceu uma relação direta entre os maiores níveis deste composto químico no sangue e a incidência de doenças cardiovasculares. O estudo publicado no Archives of Internal Medicine revelou ainda que este ácido está presente na corrente sanguínea de 98% da população americana.

3. Tiróide

Um estudo inglês publicado no jornal Environmental Health Perspectives revelou que os indivíduos com níveis de PFOA superiores a 5.7 ng/ml têm duas vezes mais doenças na tiróide, do que a restante população.

4. Infertilidade

A Universidade da Califórnia publicou no jornal Human Reproduction um estudo em que apresenta 1240 mulheres dinamarquesas, cuja exposição a PFC’s (PFOA e PFOS – Ácido perfluorooctanessulfónico) se revela um fator de diminuição da fertilidade.

5. Colesterol

Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine relaciona os níveis elevados de PFC’s com o aumento do mau colesterol em crianças e adolescentes. A pesquisa teve por base 12.476 crianças e adolescentes contaminados com PFOA.

6. Cancro da próstata

Tem também sido registada uma prevalência de cancro na próstata em trabalhadores de fábrica, expostos a esta substância química.

As investigações, estudos e pesquisas sobre o PFOA são já em número suficiente e consistentes quanto baste para percebermos que este é um componente químico a evitar. Para além da sua gradual eliminação no meio-ambiente, é importante que todos nós, no interior de nossas casas, procedamos à sua rejeição, descartando os produtos que possuímos com esta substância química e garantindo que, a partir deste momento, só adquirimos objetos com a indicação PFOA free.

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