Assunção Duarte
Assunção Duarte
21 Abr, 2023 - 10:18

Pirilampos em risco de extinção? Sim, é verdade

Assunção Duarte

O declínio destes insectos ainda não foi decretado oficialmente, mas os especialistas não têm dúvidas: pirilampos em risco de extinção? O risco é real.

Foresta com pirilampos em risco de extinção

Pirilampos em risco de extinção é o alerta dado pelos estudiosos destes insectos. A suspeita resulta da confirmação científica sobre o mau estado em que se encontram muitos dos ecossistemas naturais onde habitavam.

Até há poucos anos, estavam identificadas cerca de 2000 espécies de pirilampos em todo mundo. Habitavam as margens de cursos de água, as orlas dos campos agrícolas e as zonas ajardinadas, locais onde a sua existência sempre foi sinónimo de qualidade do habitat. 

Só em Portugal, costumavam ser identificadas frequentemente populações pertencentes a 11 espécies diferentes que sempre foram companhia habitual e desejada nas noites quentes de verão. Mas de alguns anos para cá as coisas mudaram.

Cada vez se vêem menos pirilampos a piscar a sua luz amarelo esverdeada e os estudiosos destes insectos pensam saber quais são as razões para esta redução drástica na sua ocorrência.

Pirilampos em risco de extinção: as razões

Redução de habitat e demasiados pesticidas

A maior parte das espécies de pirilampos é noturna ou crepuscular e a sua alimentação é constituída maioritariamente por caracóis, lesmas ou outros organismos moles como minhocas.

São as pequenas larvas que mais precisam desta alimentação para sobreviver durante o tempo que demoram a atingir a idade adulta, entre 2 a 3 anos. Nessa altura, desinteressam-se pela comida e vivem apenas algumas semanas, o suficiente para acasalar e pôr os seus ovos.

São muito sensíveis à poluição e às alterações da vegetação ou temperatura, sendo dos primeiros seres vivos a desaparecer se o seu habitat for comprometido. Com a construção de aglomerados urbanos e a expansão de terrenos agrícolas, os pirilampos perderam áreas naturais de reprodução.

Os pesticidas utilizados na proteção das culturas humanas, também contribuíram para aniquilar as populações de animais que fazem parte da sua alimentação natural. Assim, é fácil suspeitar que o futuro deste mágico insecto não se apresenta promissor.

pirilampos azuis na areia

Luz artificial perturba acasalamento

Os pirilampos são organismos que imitem luz ao produzirem reações químicas que tornam parte do seu corpo luminescente. As gamas de cores que imitem podem ser ligeiramente diferentes entre as espécies, tal como o seu piscar.

Este é utilizado como código para que os machos possam reconhecer as fêmeas da sua espécie nas noites mais quentes de verão, a sua época anual do seu acasalamento.

É nessa altura que vemos alguns machos a voar cintilantes, procurando as fêmeas que pulsam a sua luz a partir do solo ou empoleiradas nos ramos ou ervas. Reproduzir-se e pôr ovos para a próxima geração é aliás a única tarefa dos pirilampos adultos cuja vida dura poucas semanas.

Sendo esta comunicação luminosa tão importante, não surpreende que a nossa luz artificial atrapalhe os rituais de acasalamento dos pirilampos. Com um período de acasalamento curto, a nossa iluminação noturna só atrapalha, confunde-os e dificulta a identificação e localização dos membros da sua espécie em tempo útil. 

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Como ajudar os pirilampos em risco de extinção?

Não deixe as luzes do exterior acesas

Este conselho é especialmente importante para as pessoas que vivem no campo ou têm jardins perto de casa. Agora que sabe que a grande maioria das espécies de pirilampos produzem luz para comunicar no escuro, torne-se um verdadeiro cupido ao deixar a luz natural das noites de verão desempenhar o seu papel no namoro destes insectos.

Crie um jardim ou horta livre de pesticidas 

Crie um santuário para pirilampos para que durante as noites de verão possa ter estes pequenos insectos como “pets” a animar o seu jardim. Informe-se sobre as plantas que podem ajudar a proteger a sua horta sem ter de recorrer a pesticidas e diversifique as suas plantações. Estará também a criar um santuário para outros insectos e mesmo algumas aves. 

Mas se tiver como pet um lagarto, uma iguana ou outro réptil, não o alimente com larvas de pirilampo. São inofensivas para o homem, mas podem libertar químicos tóxicos quando se sentem ameaçadas, tornando-se presas muito pouco saborosas e até perigosas para animais pequenos. 

colónia de pirilampos

Interesse-se pelos pirilampos da sua região

Nos últimos anos, o ecoturismo em Portugal começou a prestar atenção aos pirilampos tornando possíveis visitas guiadas a parques biológicos onde ainda existem populações de pirilampos muito ativas nas noites de verão.

Perto de Lisboa destacamos as visitas noturnas aos parques de Sintra, oferecidas por diversos operadores, e no norte do país o Parque Biológico de Gaia, um dos grandes responsáveis por tirar os pirilampos do anonimato ao abrir regularmente as suas portas em junho para realizar a já famosa Noite dos Pirilampos.

Apesar deste interesse, ainda existe pouca investigação sobre estes insectos, em Portugal e no mundo, pelo que ainda não foi feita uma classificação abrangente sobre as suas espécies de forma a colocá-las na lista da conservação. Mas se aprecia estes animais mágicos pode contribuir para a sua observação e estudo ajudando a sensibilizar as populações e as autoridades para a sua proteção. 

Pode aderir à observação destes insectos e criar grupos online, onde se partilha informação sobre os mesmos. Pode também contactar os investigadores associados ao Parque Biológico de Gaia se detectar populações importantes na sua zona e contribuir com os seus achados enviando fotos e participando no facebook do projecto.

Abra os olhos e procure pelos pirilampos, lembrando-se que as larvas podem ser observadas durante todo o ano, apesar de se esconderem no solo durante os meses mais frios, e que longe adultos apenas podem ser vistos a piscar na primavera e no verão.

Procure nas zonas húmidas e longe de pesticidas, mas lembre-se que observar não é interferir. Nos locais onde os encontrar não os perturbe e, se quiser tirar alguma coisa do seu habitat, tire apenas fotografias e sem flash se for à noite.

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