Miguel Pinto
Miguel Pinto
18 Nov, 2019 - 16:01

Ribeira de Baixo: a próxima aldeia que a água vai engolir

Miguel Pinto

A construção da barragem de Daivões vai fazer desaparecer a aldeia de Ribeira de Baixo, em Ribeira de Pena. Uma visita a fazer o quanto antes.

Ribeira de baixo a aldeia que vai desaparecer

Na aldeia de Ribeira de Baixo, no concelho de Ribeira de Pena, ultimam-se os pormenores para uma mudança forçada. Os moradores empacotam os haveres enquanto aguardam a chegada da água da Barragem de Daivões, que em breve irá submergir praticamente toda a aldeia.

Já há várias casas desocupadas, mas alguns moradores ainda resistem, seja porque ainda não terminaram a recolha de todos os pertences, seja porque ainda não chegaram a acordo com a entidade promotora da barragem no que diz respeito ao valor que consideram justo para abandonar aquilo a quem durante décadas chamaram de lar.

O concelho de Ribeira de Pena é o mais afectado pela construção, por parte da Iberdrola, do Sistema Electroprodutor do Tâmega, onde se integram as barragens de Daivões, Gouvães e Alto Tâmega.

No caso da aldeia de Ribeira de Baixo, de um total de 59 casas, 49 estão condenadas pela subida das águas, fazendo com que praticamente toda povoação se transforme numa memória mais ou menos distante.

ribeira de baixo: mais uma aldeia submersa

Rio Poio em Ribeira de Pena

Este não é um caso único em Portugal. Ribeira de Baixo tem alguns parceiros na degraça. Com a construção da barragem do Alqueva, por exemplo, a Aldeia da Luz original acabou por desparecer, dando lugar a uma réplica uns quilómetros mais acima.

Mas um dos casos mais conhecidos será mesmo o de Vilarinho das Furnas.

O nome original era Vilarinho da Furna. Com a construção da barragem ficou Vilarinho das Furnas, assim, no plural. Lá terá uma razão que a razão desconhece, mas a verdade é que assim ficou.

Era uma aldeia da freguesia de Campo do Gerês, onde a vida comunitária se fazia desde tempos quase imemoriais.

Em outubro de 1970 residiam na aldeia 250 pessoas (cerca de 57 famílias) que se apressaram a sair, tendo sido este sítio, gradualmente, apagado do mapa. Em 1971, as últimas pessoas abandonaram a aldeia, dando lugar à água.

E Vilarinho da Furna perdeu-se para sempre.

Ribeira de baixo: conheça ribeira de pena

Placa do rio Tâmega

Esta é então uma oportunidade única para ainda conhecer uma aldeia, Ribeira de Baixo, prestes a desaparecer, assim como parte significativa da paisagem envolvente, aproveitando para um passeio pelo concelho de Ribeira de Pena.

E acredite que há muito para visitar.

Desde logo, as inúmeras igrejas e capelas que pululam um pouco por todo o concelho, sendo que os exemplares mais antigos remontam à época medieval, com vestígios nas igrejas de Canedo e Cerva e na capela de São Pedro, em Ribeira de Pena.

A Igreja Matriz do Salvador, a Igreja de Santa Marinha, as capelas da Senhora da Guia e da Granja Velha, são outros dos monumentos que vale a pena conhecer em Ribeira de Pena.

A arquitectura senhorial também tem na região um presença importante, uma vez que os férteis solos dos vales do Tâmega, e seus afluentes, levaram ao estabelecimento de muitas famílias nobres, com a consequente construção de riquíssimos solares.

Em termos de construções solarengas, em Ribeira de Pena podem encontrar-se núcleos como o de Salvador (que engloba as casas do Bucheiro e do Picanhol), o de Santa marinha (composto apenas pela casa de Santa Marinha), o de Serra (com as casas da Temporã, das Pereiras, de serra de Cima e de Serra de Baixo), o de Santo Aleixo (com as casas da Aldeia, do Fragão, da Fêcha e do Outeiro, o de Bragadas (com a casa do Barroso) e o de Cerva (englobando as casas de Crespos, Donas e casa da Costa).

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Património histórico

Ribeira de Pena conta ainda com uma série de infra-estruturas históricas, designadamente um conjunto de pontes de grande valor.

As pontes medievais de Alvite, classificada como monumento nacional, e do Lourêdo, as pontes de Penalonga, da Póvoa e de Cabriz, dos séculos XVII e XVIII, e as construções do século XX onde se destacam, pela sua peculiaridade, o Pondrado e a Ponte de Arame e, pela sua imponência, a Ponte Nova de Santo Aleixo, são alguns destes exemplos.

O pelourinho de Cerva, construído no século XVII, os inúmeros fontanários que pululam um pouco por todo o concelho ou edifícios como o velho edifício dos Paços do Concelho, merecem uma visita cuidada e serão, com toda a certeza, óptimos cenários para umas fotografias únicas.

Ainda muito comuns por todo o território, são exemplos da arquitectura popular, com espigueiros, silos, moinhos, levadas, azenhas e lagares a destacarem-se pela sua singularidade.

Não perca ainda a oportunidade para procurar um dos muitos relógios de sol existentes no concelho e tentar adivinhar as horas por ali.

Finalmente, não pode perder a Cascata de Água Cai d’Alto, na freguesia de Cerva. Com 60 metros de altura, situa-se a nascente do rio Poio, tendo origem na confluência de dois regatos.

Este curso de água é também muito utilizado pelos amantes de desportos radicais, como a canoagem.

O que comer

Se está em Ribeira de Pena e e amante de peixe, nada como provar as famosas trutas do Beça. Mas a vitela baronesa, o cabrito, o troco bísrao ou o javali também prometem forrar o estômago a que prefere carne.

Não perca também os tradicionais Milhos, tudo regado com um bom Vinho Verde de Basto.

Onde ficar

Ribeira de Pena conta com várias unidades de turismo rural, como a Casa da Fêcha, a Casa do Cerrado, a Casa da Mota, a Casa Rústica da Lenha ou a Casa de Cabresto. Quem preferir um hotel mais convencional, a opção é o Pena Park Hotel.

Como ir

A partir do Porto, apanhe a A3, na direcção de Valença, saindo entretanto para a A7, rumo a Guimarães. A saída para Ribeira de pena é a número 13, tomando depois a EN312 e depois a EN 206. O percurso, desde a Invicta, demorará cerca de um hora.

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