Viviane Soares
Viviane Soares
07 Set, 2018 - 00:00

7 tradições das Aldeias do Xisto que vale a pena conhecer

Viviane Soares

Da gastronomia às festividades, as tradições das Aldeias do Xisto merecem ser revisitadas, saboreadas e valorizadas. Venha, fomos convidados a conhecê-las.

Tradições das aldeias do xisto

Muitas das tradições das Aldeias do Xisto fazem-nos reviver algumas das memórias mais genuínas da nossa infância e, de certa forma, religam-nos aos nossos antepassados, sobretudo aos bons momentos que passamos em casa das avós.

Quem nunca participou num magusto tradicional, na matança do porco, numa lagarada ou provou um bom pão, cozido num forno a lenha, os assados e o arroz de forno, ou mesmo os doces feitos com ovos caseiros?

As casinhas de pedra, o cheiro a lenha queimada das lareiras, o cheiro dos fumeiros, os celeiros, os animais nas quintas, os fornos comunitários, a fruta a cair das árvores, as pessoas que vivem em verdadeiro sentido comunitário – tudo nestas aldeias contribui para revisitar este tempo, recheado de memórias felizes e saborosas.

Fizemos uma lista das tradições das Aldeias do Xisto que ainda estão vivas no coração desta região serrana e que vale a pena conhecer.

Descubra as tradições das Aldeias do Xisto

As Aldeias do Xisto são parte do acervo histórico e monumental nacional e guardam histórias, artes e tradições que merecem ser conhecidas.

No total, há 27 aldeias e são chamadas “do xisto”, por ser esta a pedra mais abundante da região, razão pela qual também é a mais utilizada na construção das casinhas típicas desta região serrana. Estão espalhadas pela Serra da Lousã, Serra do Açor, Zêzere e Tejo-Ocreza, no interior da região centro do país.

Além desta singularidade, é impossível ficar indiferente à beleza das suas paisagens, à simpatia das suas gentes, à qualidade da sua oferta de alojamento e, como não podia deixar de ser, aos sabores tradicionais da doçaria e gastronomia da região – património gastronómico genuíno, caseiro, preparado com carinho pelas gentes das aldeias, que tentam preservar os sabores que já atravessam várias gerações.

Vale a pena visitar também os centros e lojas de artesanato, os Caminhos do Xisto e, sobretudo, redescobrir e celebrar as tradições ancestrais, marcadas pelo ritmo do calendário e das estações do ano.

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Descamisada do milho

Quando o Outono se começa a fazer sentir, as aldeias preparam a descamisada do milho, uma das tradições das Aldeias do Xisto que prometem muita animação.

Todo o processo da descamisada, a malha do milho e ainda a separação da moinha é um evento que reúne todos os que quiserem participar, residentes e visitantes, miúdos e graúdos. Isto porque, no final do trabalho, há a famosa bucha, momento em que o trabalho dá lugar ao almoço e ao convívio.

A alegria da descamisada é representativa do estado de espírito das populações durante as colheitas, principalmente quando estas são boas. Come-se bem, dança-se, canta-se e namora-se. Reza a tradição que este era uma boa altura para namoricos e casamentos.

Pão das aldeias do xisto
A produção artesanal de pão é um dos atrativos das Aldeias do Xisto
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O Caminho do Pão

Outra das tradições das Aldeias do Xisto é a produção artesanal de fabrico de broa de milho e do pão de trigo e de centeio. Por norma, são cozidos nos fornos comunitários da aldeia e servem a população.

Para valorizar esta tradição secular, as Aldeias do Xisto organizam muitas atividades relacionadas com o fabrico do pão.

O Caminho do Pão é uma atividade criada a pensar nos que buscam o que de mais genuíno e tradicional têm as Aldeias do Xisto e nos que gostariam de experimentar, ou de mostrar aos mais novos todo o percurso do pão, desde o cereal até à mesa.

É uma experiência que aconselhamos a fazer em família ou com amigos, pois combina na perfeição as componentes lúdica, desportiva, paisagística e gastronómica.

Ao longo de trilhos e caminhos tradicionais que ligavam as povoações aos moinhos de água, os visitantes podem também assistir ao processo tradicional de moagem do cereal, preparar a massa e o forno a lenha, cozer o pão e, finalmente, prová-lo.

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Produção de enchidos

Depois da matança do porco, em meados de outubro, os residentes produzem os seus famosos enchidos. Os maranhos, o bucho recheado, as morcelas, as bufeiras, os chouriços de carne, o salpicão e os plangaios são algumas das iguarias que se podem provar nas Aldeias do Xisto.

É também interessante conhecer o processo de produção destes enchidos – desde a lavagem das tripas do porco até à preparação das carnes.

Os maranhos e o bucho são, talvez, as mais confeccionadas e consumidas iguarias desta região. No caso dos maranhos, trata-se de um enchido fresco – um bucho (estômago de cabra) recheado com carne de cabra ou ovelha, vários enchidos, arroz e um conjunto de especiarias.

Assada ou cozida, estas iguaria beirãs tem um sabor delicioso, sobretudo para os que não dispensam um bom prato de carne.

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Pratos tradicionais

O pão cozido em forno a lenha é muito utilizado na gastronomia da região, nomeadamente nas tibornas, nas famosas migas de batatas, nas açordas e nas caçoilas de carne – nas quais o borrego (assado em forno de lenha, depois de dias a marinar em temperos mágicos) é servido no interior de um grande pão – que lhe serve de travessa (ou de caçoila). Depois do pão absorver os líquidos e os molhos da carne, imagine quão delicioso é terminar a refeição assim.

No que toca às carnes, são muito apreciados os pratos de coelho guisado, as chanfanas, o cabrito estonado e assado no forno a lenha, o lombo de porco na talha, o arroz de cabidela e os enchidos.

Quanto à doçaria tradicional, a lista é interminável. Destacam-se o arroz doce, os bolos de azeite e de jeropiga, os deliciosos filhós com mel da região, os coscoréis, as papas de carolo, as cavacas e como não podia deixar de ser, a famosa tigelada – um delicioso doce de ovos servido numa caçarola de barro, que promete trazer-lhe lágrimas aos olhos de tanta felicidade. É a principal referência da doçaria regional, e um daqueles doces obrigatórios a provar, várias vezes na vida.

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Lagarada Tradicional

A Lagarada é uma das tradições das Aldeias do Xisto que ainda se mantém viva. Na Malhada Velha, no Fundão, as gentes desta aldeia beirã endereçam o convite a todos os que quiserem participar neste momento de convívio.

O evento fica ainda marcado por um delicioso jantar, no qual se saboreia a famosa “couvada” com bacalhau, bem regada com o “ouro verde”. É uma experiência a ter em conta para passar um fim-de-semana diferente.

Reza a tradição que o fim do período de funcionamento de um lagar era marcado por uma lagarada tradicional. Da ementa deste dia não podia faltar o bacalhau cozido com batatas e couves, bem regados com azeite, e o vinho novo – que todos os participantes se orgulhavam de dar a provar.

Segundo a tradição, neste dia, cantava-se ainda ao som das concertinas pelas ruas da aldeia, sendo que os habitantes abriam a porta das suas casas para uma visita às adegas, para brindar a mais um ano de trabalho árduo e de boa produção de vinho e de azeite.

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Festa do Bodo

A Festa do Bodo celebra-se todos os anos  a 20 de janeiro, na Aldeia do Xisto de Janeiro de Cima, localizada no concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco. Os habitantes reúnem-se para agradecer a proteção de S. Sebastião, padroeiro das fomes, pestes e guerras.

As Aldeias do Xisto convidam-no a participar nas festividades, mas também a provar o pão cozido no forno a lenha e o vinho da região, que simbolicamente oferecem ao santo. Haverá ainda uma missa para homenagear S. Sebastião.

Reza a lenda que em meados do século XVIII, a população de Janeiro de Cima foi assolada por uma grave epidemia que causou inúmeras vítimas.

Assustados e desesperados, os habitantes pediram emprestada a imagem de S. Sebastião – advogado das fomes, pestes e guerras – à Aldeia do Xisto de Janeiro de Baixo.

Os moradores desta aldeia, com receio de contágio, não permitiram a aproximação dos habitantes de Janeiro de Cima, mas na madrugada do dia seguinte atravessaram a imagem do seu santo numa barca e depositaram-na na outra margem do Zêzere, regressando rapidamente à sua aldeia.

Como o santo terá ouvido as preces e afastado a epidemia, Janeiro de Cima cumpriu a sua promessa edificando-lhe uma capela com imagem. Este agradecimento perpetua-se, anualmente, com a Festa do Bodo, sempre a 20 de janeiro.

Máscara do entrudo
As tradições do entrudo estão vem vivas por toda a região
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Entrudo

O Entrudo Tradicional das Aldeias do Xisto de Góis, na Serra da Lousã, acontece todos os anos no carnaval. Baseia-se numa “Corrida do Entrudo”, na qual é obrigatório trajar a rigor.

As vestes são muito criativas e elaboradas a partir de materiais como serapilheiras, fronhas velhas, trapos, um “peneiro das abelhas” e as máscaras são feitas a partir de cortiça.

Os foliões partem numa corrida”às aldeias e brinca-se com as gentes, sobretudo a declamar ”quadras jocosas”. O percurso deste ano será feito nas aldeias de Aigra Nova, Pena, Cerdeira e Ponte do Sótão. Esta é uma das tradições das Aldeias do Xisto mais pitorescas e merece a sua visita.

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