Pedro Andrade
Pedro Andrade
30 Abr, 2017 - 10:00

Dimicina: medicamento do passado?

Pedro Andrade

Sabia que a dimicina já foi bastante usada no tratamento da diarreia? Descubra mais sobre este medicamento e confira se é recomendado.

Dimicina: medicamento do passado?

Provavelmente não sabe o que é a dimicina, mas já terá passado por alguns episódios de diarreia. Qual a ligação destes temas? É o que vamos explicar com a ajuda da farmacêutica Isabel Lima.

Antes de mais, importa saber que a diarreia “é definida por um aumento na frequência das dejeções ou diminuição da consistência das fezes e por uma massa fecal superior a 200g/dia”. Isabel Lima diz até que “alguns autores consideram que a diarreia é a eliminação de fezes moles (fezes mais líquidas ou pastosas) e com uma frequência de dejeções superior a três vezes por dia”.

Este problema é muito incómodo e pode ter origem numa infeção gastrointestinal, parasitas, vírus ou bactérias. A farmacêutica explica que “a intolerância a alguns alimentos, o stress emocional e alguns medicamentos” podem ser algumas das causas da diarreia.

A diarreia pode ser aguda (quando aparece subitamente e é de curta duração), ou crónica (quando ocorre durante um período superior a 4 semanas).

Dimicina: o que é?

O tratamento da diarreia, durante algumas décadas, era feito através da toma de dimicina. A farmacêutica Isabel Lima conta ao E-Konomista que este é um medicamento sujeito a receita médica, que é usado “no controlo de diarreias agudas ou crónicas, destinado a ser exclusivamente utilizado de acordo com indicação médica”.

“A dimicina é constituída por uma associação de dois antibióticos: a neomicina e a bacitracina, sendo classificada como pertencente ao grupo de fármacos antisséticos intestinais”. “A sua utilização conjunta é consequência do conhecimento de que estas duas moléculas usadas em associação têm efeito sinérgico, conseguindo-se assim com o uso de doses mais baixas uma maior eficácia na eliminação de uma interessante variedade de microrganismos”, explica Isabel Lima.

É um medicamento administrado por via oral e, quando absorvido no aparelho gastrointestinal, “resulta na concentração do fármaco no local da potencial infeção – os intestinos – com o mínimo risco de efeitos adversos sistémicos, toxicidade e interações medicamentosas”, diz a farmacêutica.

Ainda assim, a especialista lembra que “a maioria dos casos de diarreia aguda não necessita de antibioterapia, sejam estes antibióticos incluídos na dimicina, sejam outras moléculas com espetro de ação distinto e mais alargado”. Porquê? À conta “do crescente desenvolvimento de resistência aos antibióticos”.

“Os antibióticos não são, portanto, recomendação atual para o tratamento de diarreias agudas nos países desenvolvidos e reserva-se a sua utilização para casos específicos de comprovada infeção por bactérias e para algumas situações de diarreia do viajante, sendo atualmente recomendados antibióticos diferentes dos incluídos na dimicina”, diz a farmacêutica.

Dimicina: medicamento do passado

Apesar da dimicina ter sido administrada de forma recorrente para o tratamento da diarreia durante algumas décadas, atualmente, a sua utilização “não é de interesse terapêutico” porque “na literatura científica, alguns autores referem que a neomicina e a bacitracina não são reconhecidos como eficazes”.

Isabel Lima explica ainda que, hoje em dia, a administração da dimicina com o objetivo de reduzir a flora microbiana intestinal é considerada como “restrita a um grupo limitado de bactérias, sendo a dose fixa da sua composição também considerada insuficiente”.

Assim sendo, existem já outras opções para o tratamento da diarreia. A farmacêutica diz que “as orientações para o tratamento são muito diversificadas e, por vezes, controversas e variam necessariamente de acordo com a causa do distúrbio intestinal”.

De acordo com a especialista, a maioria dos casos de diarreia aguda é autolimitada, o que significa que em grande parte destas situações é apenas necessário “um tratamento sintomático com líquidos e algumas alterações da dieta”. Portanto, nestes casos, o mais importante é a “reposição de líquidos e eletrólitos para reverter a perda causada pelos episódios diarreicos”.

A farmacêutica explica que “para facilitar a ingestão apropriada de líquidos e eletrólitos, podem hoje ser encontrados nas farmácias inúmeros fluidos de re-hidratação oral com a composição apropriada”. “Estão também disponíveis para o tratamento da diarreia os modificadores da motilidade intestinal, como é o caso da Loperamida, os adsorventes, como o Carvão Ativado, e os substitutos da flora intestinal”, acrescenta.

A especialista deixa um conselho: “apesar da disponibilidade de todas estas alternativas para alívio desta perturbação intestinal, é sempre bom relembrar que o aconselhamento efetuado por um profissional de saúde e a intervenção médica é recomendado para situações de diarreia em crianças, pessoas idosas, debilitadas ou com patologias crónicas, nas diarreias agudas com duração superior a 4-5 dias, quando há sinais de desidratação e nos casos de fezes com sangue, febre (superior a 39ºC) e distensão do cólon”.

Apesar de já não ser comum, a dimicina ainda pode ser receitada pelos médicos em casos específicos de ação local no trato gastrointestinal. A farmacêutica conta ao E-Konomista que “a sua utilização pode ainda ser indicada quando há necessidade de efetuar uma supressão da flora intestinal, como na preparação intestinal pré-operatória. A dimicina tem ainda a possibilidade de ser indicada como uma terapia adjuvante para o tratamento da encefalopatia hepática”.

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