Elsa Santos
Elsa Santos
07 Mar, 2023 - 11:30

Hotelaria: quais os grandes desafios para trabalhar nesta área?

Elsa Santos

Após a COVID-19, e agora com a guerra na Ucrânia, muito mudou para quem quer contratar ou trabalhar na hotelaria em Portugal.

empregada de hotelaria

O país e o mundo têm vindo a sofrer grandes mudanças e isso é muito evidente para quem quer contratar ou procura trabalhar na hotelaria.

O impressionante crescimento que o setor do turismo tem vindo a registar no nosso país obriga não só a um reforço extraordinário da mão de obra, mas também à revisão das condições oferecidas aos profissionais. Afinal, o mercado (às vezes) funciona para os dois lados.

Portugal tem vindo a receber migrantes de diferentes pontos do globo, em busca de uma vida melhor e, claro está, de trabalho. E a verdade é que há falta de mão de obra para trabalhar na hotelaria. Pelo menos assim o alegam a generalidade dos agentes do setor.

O problema é que ainda prevalece uma lógica de vencimentos baixos, assim como uma série de outros entraves que continuam a dificultar o processo de recrutamento de mão de obra. Mas a hotelaria vai continuar a crescer.

Hotelaria: estado atual do setor

Um dos setores mais afetados pela pandemia, pela inflação e outros fatores que coloquem entraves ao turismo e ao consumo, a hotelaria está ainda a recuperar e a adaptar-se às muitas exigências e desafios dos últimos tempos.

Porém, o otimismo e a procura de novas estratégias mostram a vontade de quem continua a trabalhar em hotelaria de fazer mais e melhor.

Contratação antecipada

Contratar antecipadamente, ainda a meses da época alta do turismo, parece ter passado a ser estratégia para as empresas hoteleiras.

O desafio de dar resposta às necessidades do verão já não é novidade, mas a dificuldade agudiza-se. Apesar de o turismo assumir especial destaque em Portugal, a verdade é há (muita) falta de recursos humanos nesta área de negócio.

De acordo com números do governo, faltam cerca de 50 mil trabalhadores no setor.

Assim, na tentativa de garantir ter pessoas suficiente a trabalhar na hotelaria na altura em que são mais precisas, há que contratar antecipadamente.

Uma estratégia de grandes grupos

A contratação antecipada já faz parte da estratégia de alguns grupos de relevo na hotelaria nacional.

Por exemplo, os hotéis Tivoli Hotels & Resorts, do grupo tailandês Minor, com 16 unidades em Portugal, desde janeiro que está a contratar, com o objetivo de preencher 500 vagas. A maioria (300) destina-se à região do Algarve para um novo hotel que abre em março, o Tivoli Alvor Algarve Resort.

Também a United Investments Portugal (UIP), dona do Pine Cliffs Resort, do Sheraton Cascais ou do Hyatt Regency Lisboa, pretende contratar 385 profissionais, sendo que grande parte das vagas são sazonais, ainda que algumas sejam para entrada imediata e com continuidade.

Um aumento de recursos necessários face a 2022, justificado pelas perspetivas otimistas, mas também por uma oferta maior.

Já a Unlock Boutique Hotéis (UBH), com novas aberturas para 2023, espera alcançar números recordes. Para isso, o grupo de hotéis boutique precisa de preencher 100 vagas de emprego em áreas operacionais.

Uma missão dificultada por fatores como formação e motivação muito baixas para posições como bar, cozinha, restauração ou housekeeping.

Hotelaria: principais dificuldades

Responsáveis do setor reconhecem o constante desafio no que respeita à contratação de profissionais para trabalhar na hotelaria. Há alguns fatores que o justificam, tais como:

  • longas horas de trabalho
  • baixos salários
  • algumas funções pouco atrativas
  • dificuldade em conjugar vida profissional e familiar
  • falta de perspetivas de carreira
  • fraca valorização e reconhecimento das profissões.

Tais dificuldades trazem novos desafios, novas estratégias e outras exigências.

Melhores salários

Um dos grandes problemas apontados à na hotelaria relaciona-se com as remunerações muito baixas em algumas funções.

No entanto, alguns hotéis não concordam e garantem mesmo estar já estar a pagar acima do salário mínimo nacional (SMN), fixado em 760 euros, em 2023.

Pestana e Vila Galé, os dois maiores grupos hoteleiros do país são exemplo dessa política. O Pestana, com mais de 100 unidades, vai subir o salário base dos seus trabalhadores 15% em relação ao SMN, até ao final do primeiro trimestre de 2023. No ano passado, o mesmo já tinha implementado uma remuneração mensal mínima de 750 euros.

Por sua vez, a Vila Galé, na segunda posição do ranking nacional das maiores empresas hoteleiras, aumenta os rendimentos dos colaboradores em 11% e fixa um salário mínimo de 900 euros mensais.

Novas condições: menos impostos e mais imigração

Num ano em que outros fatores pesam na fatura, como a inflação e consequente perda de compra, os gestores hoteleiros alertam para a carga fiscal.

Baixar os impostos sobre os salários é uma forma de aumentar os salários líquidos o que é importante para os trabalhadores, e também para as empresas. Este é um desejo, e um pedido ao Governo, partilhado por vários gestores da indústria hoteleira nacional. Esta é também uma medida que consideram fundamental para aumentar a competitividade.

Mas, para além da mexida nos impostos, é essencial a flexibilização da entrada de imigrantes no mercado de trabalho, uma forma de reduzir o problema da falta de recursos.

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Programas de contratação de estrangeiros

A United Investments Portugal (UIP) tem, atualmente, programas em desenvolvimento para recrutamento no estrangeiro para as posições sazonais. As ofertas disponíveis podem ser consultadas online.

A integração de trabalhadores de outras nacionalidades é também prática no PortoBay que acredita ser essencial que “Portugal aceite mais imigrantes seja para o setor do turismo seja para outros”.

Um setor aberto ao mundo

O setor da hotelaria é, por natureza, aberto a todas as pessoas que procurem os seus serviços, nacionais ou de qualquer parte do globo. Assim diferentes nacionalidades são consideradas no que respeita à mão-de-obra, de acordo com a zona do país e públicos-alvo.

Há muito que vários grupos hoteleiros contam com trabalhadores de outras nacionalidades, sobretudo sazonalmente, mas também nos quadros, em diferentes cargos.

Num contexto atual de crescendo de migrantes oriundos de diferentes pontos, principalmente da Europa, torna-se urgente simplificar procedimentos legais dos residentes em Portugal, de modo a que possam usufruir de justas e dignas condições de trabalho.

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