A distribuição do poder de compra em Portugal mantém-se profundamente desigual, com as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto a concentrarem 43,5% do total nacional, segundo dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Esta concentração é ainda mais significativa quando se considera que estas duas regiões albergam apenas 36,9% da população portuguesa, revelando uma clara disparidade entre o peso demográfico e económico destas áreas.
O estudo do poder de compra concelhio, divulgado pelo INE, traça um retrato claro das assimetrias territoriais portuguesas. Em 2023, apenas 31 dos 308 municípios do país registaram um poder de compra per capita superior à média nacional.
Destes, uma parte significativa encontra-se nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto: seis municípios na Grande Lisboa (que totaliza nove concelhos) e outros seis na Área Metropolitana do Porto (constituída por 17 municípios).
Poder de compra: interior claramente atrás
Os números são eloquentes, com 23 municípios a concentrarem cerca de 50% do poder de compra nacional, e 65 municípios a reunirem aproximadamente 75% deste indicador.
Esta concentração está, segundo o INE, intrinsecamente ligada à dimensão urbana dos municípios, sendo territorialmente muito acentuada.
Quando analisado através do Indicador per Capita (IpC), onde o valor 100 representa a média nacional, Lisboa surge destacada com 181,3 pontos, seguida pelo Porto com 162,2 e Oeiras com 150,1.
A liderança da capital não surpreende, mas a magnitude da diferença face à média nacional sublinha a profundidade das disparidades regionais.
Apenas a Grande Lisboa (127,6) e a Área Metropolitana do Porto (106,0) registam valores acima da média nacional quando consideradas as 26 sub-regiões NUTS III portuguesas.
O fenómeno repete-se noutras capitais de distrito, com municípios como Coimbra, Aveiro, Faro e Évora a destacarem-se nos seus territórios, evidenciando um padrão de concentração urbana do poder de compra.
Interior em queda
No polo oposto desta realidade económica, encontram-se as regiões do interior norte e centro do país. O Alto Tâmega e Barroso apresentam o valor mais baixo (73,9), seguidos por Tâmega e Sousa (76,3) e Douro (79,8), onde o IpC médio não atinge sequer 80% do valor nacional.
O Norte concentra 70% dos dez concelhos com menor poder de compra per capita. Seguem-se sub-regiões como Beiras e Serra da Estrela (81,8), Trás-os-Montes (81,9), Alto Minho (82,3), Viseu Dão Lafões (84,7) e Beira Baixa (84,9), todas significativamente abaixo da média nacional.
Regiões Autónomas
A situação nas regiões autónomas apresenta características próprias. Os Açores registam um poder de compra per capita de 87,6 e a Madeira de 88,1, ambos abaixo da média nacional.
Contudo, as capitais destas regiões invertem esta tendência com o Funchal a atingir 109,1 e Ponta Delgada 102,2, superando o valor de referência nacional.
Esta realidade acentua as disparidades dentro das próprias regiões insulares, onde as capitais concentram uma parte desproporcionada da atividade económica.

Surpresas no mapa do poder de compra
Alguns municípios apresentam níveis de poder de compra notáveis, frequentemente ligados a dinâmicas económicas específicas.
Alcochete, na península de Setúbal, regista 117,8 de IpC, surgindo como o município mais abonado desta área. Ainda mais impressionante é o caso de Sines, que atinge 124,2, um valor que supera os concelhos limítrofes das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, com exceção de Oeiras.
Quando considerada a Percentagem de Poder de Compra (PPC), o Norte e a Grande Lisboa concentram, em conjunto, mais de metade do total nacional, com 32,6% e 25,5%, respetivamente.
Lisboa isoladamente detém 9,7% do poder de compra nacional, enquanto o Porto representa 3,8%.
Acima de 1% surgem mais 21 concelhos, entre os quais Amadora, Cascais, Odivelas, Oeiras, Sintra e Vila Franca de Xira, na área de Lisboa, e Gondomar, Maia, Matosinhos, Santa Maria da Feira e Vila Nova de Gaia, na zona do Porto.
Esta lista inclui ainda municípios como Almada e Seixal na península de Setúbal, Guimarães e Vila Nova de Famalicão no Vale do Ave, Funchal e as capitais de distrito Braga, Coimbra, Leiria e Setúbal.
Quando somadas, as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto concentram quase 60% do poder de compra nacional.
Num contexto europeu, Portugal mantém-se abaixo da média, ocupando o 22.º lugar entre 42 países analisados no estudo “Purchasing Power Europe 2025” da GfK/NIQ Geomarketing.
O poder de compra médio português situa-se nos 16.943 euros per capita, face aos 20.291 euros da média europeia.