Miguel Pinto
Miguel Pinto
18 Out, 2025 - 19:00

Pela EN 222 com o Renault 5 elétrico: chegou e sobrou

Miguel Pinto

Fizemos-nos a uma das estradas mais bonitas do mundo ao volante do Renault 5 elétrico. Uma viagem para ler e recordar.

renault 5 elétrico amarelo

À saída da Régua o sol mal se tinha levantado. A névoa subia do Douro como fumo de uma lareira antiga, e o ar cheirava a terra molhada e a promessa de dia quente. O Renault 5 elétrico, ali estacionado junto ao cais, parecia uma cápsula caída do futuro, mas com o mesmo sorriso travesso do 5 original.

A Estrada Nacional 222, com as suas curvas que dançam entre o rio e as encostas, é o cenário ideal para medir a alma de um automóvel.

Não a velocidade, nem o ruído, mas a forma como respira connosco. E o novo 5 respira bem. Muito bem.

A aceleração elétrica é suave, quase líquida, mas quando se pede mais (e há sempre um instante em que se pede) o motor de 150 cv do modelo testado responde com um entusiasmo contido, civilizado, como quem respeita o silêncio do vale.

Renault 5 elétrico: garra que vem de longe

Nas primeiras curvas entre Peso da Régua e Pinhão, o pequeno elétrico mostra o seu lado mais francês. Firme, mas nunca seco. Leve, mas plantado.

O  equilíbrio e a precisão são surpreendentes e não há balanços inúteis, nem sustos. Apenas um fluir contínuo, o mesmo ritmo que o Douro impõe ao rio e ao vinho.

De vez em quando, abrem-se os vidros. Não para ouvir o motor (não há som que valha a pena procurar), mas para escutar as cigarras, o rumor do vento entre as videiras, o eco dos barcos rabelos lá em baixo.

É nessa altura que o Renault 5 mostra a sua verdadeira força, o silêncio. Não o silêncio vazio dos automóveis estéreis, mas um silêncio cheio de vida.

(Clique na galeria para ver mais imagens do Renault 5 elétrico)

Esforço bem doseado

No Pinhão, paragem no miradouro de Casal de Loivos. Daqui, vê-se uma pintura viva de socalcos e reflexos. O painel digital indica autonomia restante de 280 km, depois de uma subida generosa. A bateria de 52 kWh (capaz de até 400 km WLTP) tem sido um parceiro fiel.

E mesmo com o ar condicionado ligado, o sistema de regeneração nas descidas compensa boa parte do esforço. É nestes detalhes que se percebe que o Renault 5 E-Tech foi pensado para o quotidiano real.

O interior é simples, mas cheio de carácter. Tecidos reciclados com padrões retro, ecrãs de 10,1” dispostos de forma intuitiva e uma luz ambiente suave.

Sente-se um cuidado quase artesanal em cada pormenor. A posição de condução é excelente, a direção direta, o pedal do travão responde à altura. É um carro que não precisa impressionar; basta deixar-se conduzir.

Confronto com o Douro

Seguindo pela EN222 até São João da Pesqueira, o cenário muda de verde para dourado. Afinal, estamos no outono. O sol aquece o asfalto e a estrada serpenteia com curvas desenhadas a compasso de vinhateiro. Há algo de poético em percorrê-la num carro elétrico.

O Douro, que há séculos move barcos e homens, agora reflete um veículo movido a eletrões. É uma espécie de círculo completo, tradição e futuro a partilhar a mesma estrada.

No troço entre Ervedosa do Douro e Tua, mais técnico e exigente, o Renault 5 elétrico mostra que a diversão não é incompatível com responsabilidade.

A tração dianteira agarra o asfalto com convicção, o centro de gravidade baixo ajuda, e o modo de condução“Sport” acrescenta o toque certo de tempero.

Perto de Foz Côa, já com o rio a afastar-se, percebe-se que este modelo da marcxa francesa é mais do que um renascimento.

É um reencontro. Um carro pequeno, sim, mas com grande alma. Traz o passado consigo, nas linhas, nos olhos, na maneira como encara a estrada, mas demonstra que pode ser o futuro.

traseira do renault 5 elétrico

Renault 5 elétrico: emocional e fiel

A viagem termina em Vila Nova de Gaia, com o pôr do sol a espelhar-se nas janelas do carro. Bateria a 24%, 277 quilómetros percorridos, nenhuma ansiedade, muito menos tédio. O Renault 5 E-Tech não é apenas eficiente, é emocional. Tem o charme das coisas simples e a inteligência das que duram.

A EN222 continua a ser uma das estradas mais belas do mundo e este automóvel provou ser o seu parceiro ideal: compacto, curioso, cheio de vida. Talvez porque, como o Douro, também ele sabe que a beleza está nas curvas.

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