Comprar um elétrico usado requer conhecimentos específicos que vão muito além dos critérios tradicionais aplicados aos veículos de combustão.
A verdade é que este setor está em plena efervescência e cada vez mais gente considera dar o salto para a mobilidade eléctrica através do mercado de ocasião.
Só que ainda subsistem muitos mitos e lendas em torno deste tipo de automóveis, umas mais fantasiosas que outras, mas que ainda constituem um entrave à plena afirmação deste negócio.
Não há comparação entre o número de carros elétricos usados à venda e os a combustão. É um facto. Mas já vão aparecendo e em número crescente.
Por isso, se está interessado neste tipo de negócio, não deixe de seguir as nossas dicas
Elétrico usado: bateria, o coração da questão
A bateria representa o componente mais crucial e, simultaneamente, o mais dispendioso de qualquer veículo eléctrico.
Ao contrário de um motor de combustão, onde se pode avaliar o estado através de uma simples inspeção visual e teste de condução, o estado de uma bateria requer uma análise mais sofisticada.
O primeiro aspecto a verificar é a capacidade residual da bateria, expressa em percentagem face à capacidade original.
Uma bateria saudável deverá manter pelo menos 80% da sua capacidade inicial após 100.000 quilómetros ou oito anos de utilização. Solicite sempre um relatório detalhado do estado da bateria através do sistema de diagnóstico do veículo ou recorra a um especialista certificado.
Preste particular atenção ao histórico de carregamento. Baterias submetidas frequentemente a carregamentos rápidos em corrente contínua tendem a degradar-se mais rapidamente do que aquelas carregadas predominantemente em casa, através de wallbox doméstica.
Um proprietário consciente terá registos das sessões de carregamento, incluindo o tipo de carregador utilizado e a frequência das sessões.
Autonomia real vs autonomia anunciada
A autonomia publicitada pelos fabricantes baseia-se no ciclo WLTP, realizado em condições laboratoriais ideais.
Na prática, factores como temperatura ambiente, estilo de condução, idade da bateria e utilização de sistemas auxiliares (ar condicionado, aquecimento) influenciam significativamente a autonomia real.
Durante o teste de condução, avalie se a autonomia exibida no computador de bordo corresponde às suas expectativas e necessidades diárias.
Um veículo com três ou quatro anos poderá apresentar uma redução natural de 10 a 15% na autonomia máxima, valor considerado normal para a tecnologia actual.
Carregamento: planeie o futuro
Antes de finalizar a compra de um elétrico usado, certifique-se de que dispõe de uma solução de carregamento adequada.
A instalação de uma wallbox doméstica representa um investimento inicial considerável, mas essencial para maximizar a conveniência da mobilidade eléctrica.
Verifique se o veículo inclui os cabos de carregamento originais, tanto para tomadas domésticas como para postos de carregamento público.
A substituição destes componentes pode representar custos elevados, particularmente no caso de conectores específicos de marcas premium.
Analise também a rede de carregamento público na sua região e nos percursos que faz habitualmente.
Portugal tem assistido a uma expansão significativa desta infraestrutura, mas a densidade varia consideravelmente entre regiões urbanas e rurais.
Elétrico usado: tecnologia e conectividade
Os veículos eléctricos são, por natureza, mais dependentes da tecnologia do que os seus equivalentes de combustão.
Sistemas de navegação integrados com informação sobre postos de carregamento, aplicações móveis para monitorização remota e actualizações de software over-the-air são funcionalidades que rapidamente se tornam obsoletas.
Verifique se o sistema de infoentretenimento recebe actualizações regulares do fabricante e se as funcionalidades de conectividade permanecem compatíveis com os smartphones actuais.
Alguns modelos mais antigos podem apresentar limitações ao nível da integração com Android Auto ou Apple CarPlay.
Custos de manutenção e garantias
Uma das grandes vantagens dos veículos eléctricos reside na redução significativa dos custos de manutenção.
Sem motor de combustão, não existem mudanças de óleo, filtros de ar ou velas de ignição. O sistema de travagem regenerativa prolonga a vida das pastilhas e discos de travão.
Contudo, quando surgem avarias, os custos podem ser substanciais devido à especialização técnica necessária e ao preço elevado de componentes específicos.
Verifique se o veículo mantém garantia de fábrica, particularmente sobre a bateria de alta tensão, que muitos fabricantes estendem até oito anos ou 160.000 quilómetros.
Depreciação e valor residual
O mercado de veículos eléctricos usados permanece relativamente imaturo, o que se traduz em padrões de depreciação ainda incertos.
Modelos pioneiros de primeira geração tendem a desvalorizar mais acentuadamente devido aos rápidos avanços tecnológicos.
Marcas com maior quota de mercado e rede de assistência estabelecida tendem a manter melhor o valor residual.
Documentação e legalidades
Certifique-se de que toda a documentação está em ordem, incluindo certificado de conformidade e registo de alterações técnicas, caso aplicável.
Alguns veículos importados podem apresentar especificações diferentes das versões comercializadas oficialmente em Portugal.
Verifique também se o veículo beneficia de isenções fiscais aplicáveis, como o Imposto Único de Circulação reduzido e eventuais descontos em portagens ou estacionamento municipal.
Como pode constatar, a compra de um veículo eléctrico usado representa uma excelente oportunidade de aceder à mobilidade sustentável a um custo mais acessível.
Contudo, requer uma abordagem informada e criteriosa, com particular atenção ao estado da bateria e à infraestrutura de carregamento disponível.
Invista tempo na pesquisa, solicite relatórios técnicos detalhados e, sempre que possível, recorra aos serviços de um perito especializado em veículos eléctricos. Esta diligência inicial poderá evitar surpresas desagradáveis e garantir muitos quilómetros de condução silenciosa e sustentável.