Cláudia Pereira
Cláudia Pereira
02 Dez, 2025 - 11:00

Passadiços dos Bertiandos: um refúgio natural em Ponte de Lima

Cláudia Pereira

Descubra os passadiços dos Lagoas de Bertiandos e São Pedro d’Arcos: passadiços de madeira, observação de aves e natureza preservada a poucos minutos de Ponte de Lima.

Entre campos verdes e cursos de água tranquilos, esconde-se uma das jóias naturais menos conhecidas do Norte de Portugal: a Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro d’Arcos.

Lagoas de Bertiandos e São Pedro d’Arcos

As Lagoas de Bertiandos e São Pedro d’Arcos formam uma área protegida com 346 hectares, localizada no concelho de Ponte de Lima, distrito de Viana do Castelo. Desde o ano 2000 que a zona está classificada como paisagem protegida, integrada na Rede Natura 2000.

A área integra uma diversidade notável de ecossistemas, incluindo lagoas temporárias e permanentes, zonas húmidas, campos agrícolas e extensos bosques nativos. É também habitat natural para mais de 144 espécies de aves, sendo um dos melhores locais para observação de aves no Norte de Portugal. Entre as aves aquáticas mais comuns destacam‑se o pato‑real, o mergulhão‑pequeno, a garça‑real e a galinha‑d’água. Também existem várias espécies típicas de ambiente húmido ou de matos de folhosas, como o chapim‑real, o pisco‑de‑peito‑ruivo, o melro‑preto, a toutinegra‑de‑barrete, bem como a trepadeira‑comum e o gaio.

Para além das aves, o espaço abriga também uma diversidade significativa de flora: foram registadas mais de 500 espécies de plantas, incluindo árvores típicas de zonas húmidas como amieiros, salgueiros e freixos.

Onde começam os passadiços

O Centro de Interpretação Ambiental (CIA) das Lagoas de Bertiandos e São Pedro d’Arcos é o ponto ideal para iniciar a visita à paisagem protegida. Para além de funcionar como receção a visitantes, o espaço dispõe de estacionamento gratuito, instalações sanitárias, mapas e folhetos com detalhes sobre os percursos disponíveis.

É também possível agendar visitas guiadas ou actividades educativas, especialmente recomendadas para grupos e escolas. No interior, há ainda uma exposição permanente dedicada à biodiversidade da região, que ajuda a contextualizar o valor ecológico desta área protegida.

Se quiser visitar, poderá dirigir-se ao centro, localizado na Rua da Lagoa de São Pedro d’Arcos, nº 476, em Ponte de Lima. Para mais informações ou marcações, pode ligar para os números +351 258 240 201 ou +351 963 520 894 ou pode contactar por e-mail. Toda a informação oficial está disponível no site do Centro de Interpretação Ambiental.

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Que trilhos e passadiços existem na área protegida

A área dispõe de vários percursos pedestres marcados, incluindo passadiços de madeira sobre zonas alagadiças, em que cada um explora uma parte diferente da paisagem e têm graus de dificuldade variados.

PR1 – Percurso da Lagoa

O percurso mais acessível e procurado é o Percurso da Lagoa. Com uma extensão de apenas 1,6 quilómetros, em formato circular, este trilho demora cerca de 45 minutos a ser percorrido com calma. É bastante fácil, sem grandes desníveis, e indicado para famílias com crianças, caminhantes iniciantes ou qualquer pessoa que queira desfrutar da natureza sem pressa.

Ao longo do caminho, atravessa-se um passadiço de madeira sobre a lagoa, percorrem-se bosques e zonas húmidas, e encontram-se pontos estratégicos para observação de aves e pequenos momentos de descanso. É uma introdução perfeita à riqueza natural da paisagem protegida.

PR2 – Percurso das Tapadas

O Percurso das Tapadas é uma rota com cerca de 2,3 quilómetros, também em formato circular, que se percorre em aproximadamente 1 hora, dependendo do ritmo e das paragens pelo caminho. Apresenta um grau de dificuldade moderado, sendo indicado para quem já está habituado a caminhar em ambientes mais naturais e ligeiramente mais exigentes do que os passadiços da lagoa.

Este trilho atravessa zonas de vegetação mais densa, com uma envolvência mais fechada e caminhos que alternam entre bosque e campo, proporcionando uma experiência mais imersiva e menos exposta. O silêncio e a sombra predominam, sendo um percurso ideal para quem procura um passeio sereno e algo isolado, com maior probabilidade de observar aves e pequenos mamíferos longe da movimentação dos trilhos principais.

PR3 – Percurso do Rio

O Percurso do Rio tem uma extensão aproximada de 2,5 quilómetros, seguindo um traçado circular que pode ser completado em cerca de 1 hora e 15 minutos, consoante o ritmo e as paragens. O trilho apresenta um grau de dificuldade moderado, ideal para quem já tem algum hábito de caminhada e procura uma rota com mais variedade de terreno e paisagem.

Este percurso acompanha as margens de pequenos cursos de água que serpenteiam pela paisagem protegida. Pelo caminho, cruzam-se pontes de madeira e pedra, algumas com traços rústicos e aparência antiga, que reforçam o carácter natural e histórico do trilho. O contraste entre zonas ribeirinhas mais sombreadas e troços abertos com vista para os campos cria uma dinâmica interessante e convida a múltiplos momentos de paragem, para fotografar, observar a vegetação ou simplesmente escutar o som da água.

PR4 – Percurso da Veiga

O Percurso da Veiga estende-se por cerca de 2,2 quilómetros, num circuito circular que pode ser feito tranquilamente em 50 a 60 minutos. É um trilho fácil, com terreno plano e acessível, ideal para quem procura uma caminhada relaxada e com forte componente cultural.

Neste percurso, a paisagem revela o lado mais humano e produtivo da área protegida. O trilho atravessa campos cultivados, pequenas hortas e explorações agrícolas tradicionais, onde é possível observar métodos de cultivo ainda ligados ao saber ancestral da região. Esta convivência entre natureza e agricultura mostra como é possível gerir o território de forma sustentável, respeitando os ciclos naturais e o equilíbrio do ecossistema.

PR5 – Percurso da Água

O Percurso da Água tem uma extensão aproximada de 3 quilómetros, seguindo um traçado circular que pode ser percorrido em cerca de 1 hora e 30 minutos, dependendo do ritmo e do número de paragens. É considerado de dificuldade moderada, com alguns troços mais longos e variados, sendo uma excelente opção para quem quer dedicar mais tempo à descoberta do território.

Este trilho distingue-se pela forma como acompanha os antigos sistemas de regadio, fundamentais para a irrigação agrícola da região. Ao longo do caminho, o visitante percorre levadas, valas e canais cuidadosamente construídos e mantidos ao longo de gerações, revelando o engenho prático das populações locais na gestão da água. A paisagem muda entre zonas de floresta, campos agrícolas e áreas húmidas, sempre com o som da água como companhia constante.

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Outras rotas e variantes fora da área central das lagoas

Embora os trilhos oficiais das Lagoas de Bertiandos e São Pedro d’Arcos sejam os mais conhecidos, a região oferece uma teia mais ampla de caminhos pedestres. Entre as rotas alternativas, destacam-se trilhos como a Rota do Solar e a Rota dos Cruzeiros.

A Rota do Solar, por exemplo, inclui passagens por solares minhotos, casas senhoriais com jardins murados e paisagens agrícolas envolventes. Já a Rota dos Cruzeiros segue um percurso mais espiritual e patrimonial, ligando pequenos monumentos religiosos e pontos de peregrinação local.

Estas variantes não têm sempre sinalização oficial contínua, pelo que é recomendável usar apps como Wikiloc, AllTrails ou WalkingPortugal para descarregar os ficheiros GPS e seguir com segurança.

O que levar e cuidados a ter em conta

Antes de partir para os trilhos, vale a pena preparar alguns elementos básicos que fazem diferença na experiência. Um bom par de calçado confortável é essencial, especialmente porque parte dos percursos passa por zonas húmidas ou enlameadas, sobretudo após dias de chuva.

Durante a visita, é importante respeitar os passadiços e a sinalização existente. As estruturas de madeira foram colocadas não apenas para facilitar a travessia, mas também para proteger o solo e os habitats mais sensíveis da área. Manter-se nos trilhos evita impactos negativos no ecossistema e torna o passeio mais seguro.

Como os pontos de apoio ao longo dos percursos são limitados, é recomendável levar água suficiente e um pequeno lanche. Alguns visitantes mencionam a ausência de bancos, bebedouros ou placas com indicação de quilómetros, pelo que é melhor ir prevenido, sobretudo se for com crianças ou planear uma caminhada mais longa.

Como chegar

As Lagoas de Bertiandos e São Pedro d’Arcos ficam localizadas a escassos minutos da vila de Ponte de Lima, no distrito de Viana do Castelo, no Norte de Portugal.

Para quem se desloca de carro, a forma mais direta é seguir pela auto‑estrada A27 e sair na saída com indicação Estorãos / Arcos / Lagoas. A partir daí, basta seguir as placas até ao Centro de Interpretação Ambiental, que serve como ponto de entrada e apoio aos trilhos. O percurso desde o centro de Ponte de Lima demora cerca de 10 a 15 minutos e as estradas estão em boas condições.

Quem preferir uma rota mais panorâmica ou vier de zonas rurais próximas pode optar pela estrada nacional EN 202, que atravessa várias freguesias do concelho e proporciona uma aproximação mais suave à paisagem envolvente.

O local está devidamente sinalizado, mas é sempre útil inserir o destino no GPS ou usar aplicações como Google Maps ou Waze. As coordenadas GPS para o Centro de Interpretação Ambiental são 41.753665, -8.648316.

O estacionamento junto ao centro é gratuito e tem espaço suficiente para viaturas ligeiras. Durante fins-de-semana e feriados, especialmente na primavera e verão, é aconselhável chegar cedo para evitar maiores aglomerações e garantir lugar.

Pronto para calçar as botas e desligar do mundo? As lagoas, os trilhos e a tranquilidade de Bertiandos estão à sua espera. Escolha o percurso e redescubra o prazer de caminhar.

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