Marta Maia
Marta Maia
06 Ago, 2021 - 12:25

Hora de revenge spending? Tudo sobre o fenómeno mundial

Marta Maia

Saiba o que é o revenge spendig, conheça o impacto que ele pode ter no seu orçamento e saiba como controlar o impulso pós-pandémico.

Revenge spending

Com as medidas restritivas a aligeirar em grande parte do mundo, a economia internacional assiste ao regresso de um fenómeno comportamental: o revenge spending.

Esta vontade incontrolável de gastar dinheiro está a levar milhões de consumidores em vários países a ignorar as mais básicas cauções financeiras para mergulhar de cabeça em entusiasmadas sessões de compras. Conheça o conceito e aprenda a reconhecê-lo no seu próprio comportamento.

O que é revenge spending?

Traduzido à letra, “revenge spending” significa compras por vingança. O fenómeno não é novo na história da economia, de tal forma que os especialistas até conhecem os padrões e os sinais de alerta que nos dizem quando está prestes a acontecer.

A vontade de fazer compras por vingança surge quando os consumidores são sujeitos a restrições ao consumo durante períodos alargados de tempo. Por um lado, não lhes é permitido comprar o que querem; por outro, acumulam mais poupança do que a habitual, ganhando a sensação de que estão com mais poder de compra.

Quando a situação melhora e as pessoas voltam a poder fazer compras livremente, estes consumidores entram numa espécie de histeria, dominados por uma vontade incontrolável de compensar o tempo perdido – e fazer revenge spending.

Mulher em êxtase com as compras que fez online

Em que outros momentos já se assistiu ao revenge spending?

Há vários momentos históricos em que os consumidores de um ou vários países entraram em modo revenge spending.

Dois casos são relativamente recentes: o período que sucedeu à queda do muro de Berlim – em que muitos alemães da zona Leste passaram a ter acesso a produtos que, até aí, estavam reservados a quem vivia fora do domínio sovético; e o período em que a China abriu as portas às grandes marcas mundiais de moda – gerando uma histeria coletiva que culminou em muitos milhões gastos em produtos de luxo.

Neste momento já há vários países – como os Estados Unidos, por exemplo – a registarem sinais do revenge spending novamente em ação. Depois de um ano e meio de restrições à mobilidade por causa da pandemia de COVID-19, muitas famílias fizeram poupanças extraordinárias e parecem agora dominadas pela vontade de gastar todo o dinheiro acumulado.

Erros financeiros
Veja também 8 erros financeiros que boicotam as suas poupanças

Como saber se está a fazer revenge spending?

Não é fácil reconhecermos os sinais de revenge spending em nós próprios, mas também não é impossível. Considere que pode estar a entrar na onda de histeria consumista se:

  • Sente vontade de gastar o que poupou a mais nos últimos meses, embora não saiba ainda bem em quê;
  • Se existe discrepância entre as coisas que está a comprar e as coisas de que realmente precisa;
  • Se tem comprado produtos mais caros do que compraria antes da pandemia;
  • Se está a fugir ao seu comportamento financeiro padrão (come fora mais vezes, faz férias mais caras,…)

Que impacto o revenge spending pode ter no seu orçamento?

Por se tratar de um comportamento coletivo e muito influenciado pelas emoções, o revenge spending tende a parecer inofensivo para quem o pratica. No entanto, pode ter efeitos nefastos nas finanças pessoais dos consumidores.

Por um lado, o revenge spending facilmente nos leva a ultrapassar o orçamento disponível para gastos, invadindo o que deviam ser as nossas poupanças e desequilibrando o orçamento familiar.

Por outro lado, o revenge spending prejudica a nossa capacidade de poupar, porque estamos a gastar mais e a guardar menos. Num momento em que muitas famílias até tiveram de recorrer às poupanças para fazer frente aos períodos mais críticos do confinamento, o revenge spending pode atrasar a sua recuperação financeira.

Finalmente, o revenge spending também pode ser responsável pela criação de novos hábitos. Sabendo bem comprar um produto de qualidade superior (e mais caro), não será fácil recuar e voltar a comprar alternativas mais baratas algumas semanas depois. Frequentemente, os novos hábitos de consumo que nascem do revenge spending estão acima das possibilidades dos consumidores, criando um desfasamento entre os gastos regulares e os rendimentos que os suportam.

Como evitar o revenge spending?

Evitar o revenge spending é relativamente fácil se estiver atento aos seus próprios comportamentos de consumo. Seguem algumas dicas úteis:

1

Faça um orçamento

Se não consegue mesmo resistir à tentação de fazer umas compras extraordinárias para celebrar o fim do confinamento, estabeleça um orçamento antes de começar a ver montras. Esse orçamento deve ser respeitado religiosamente.

2

Pague em dinheiro

Se puder, dê preferência aos pagamentos em dinheiro, porque ajudam a manter a despesa dentro do orçamento planeado. Pagando com cartão fica sempre mais fácil tolerar “derrapagens” nos gastos, até porque não vê o dinheiro a sair-lhe do bolso.

3

Pondere antes de comprar

Se está a fazer compras online, faça um intervalo entre o momento em que escolhe os produtos que vai comprar e o momento do check-out. Quando voltar à página terá uma melhor perceção sobre a real necessidade de fazer aquela compra e será também mais fácil reconhecer (e evitar) as compras por impulso.

4

Não se esqueça das poupanças

Mesmo que se permita algum revenge spending, não se esqueça de que as poupanças são muito importantes e são elas que lhe dão almofada financeira para superar desafios como a pandemia e o confinamento.

Independentemente do que vier a gastar em compras, garanta que uma parte do orçamento disponível vai para reforçar / repor as poupanças pré-existentes.

Casal a colocar moeda num mealheiro
Veja também Poupar sim, mas de forma sustentada (e bem informada)
Veja também