Em tempos de crise, a poupança ganha especial relevância no orçamento das famílias. Para muitos, a poupança representa a primeira despesa do mês, mas, para tantos outros, trata-se de um esforço que só é possível com muita ginástica orçamental. Em todos os casos, contudo, poupar significa, em termos genéricos, amealhar parte dos rendimentos disponíveis e conter todo o tipo de gastos.
A poupança, no entanto, carece de diferentes níveis de análise, até porque, paradoxalmente, o simples exercício de poupar por poupar pode ser contraproducente. Apesar de acreditarmos que cada vintém poupado é de facto um vintém ganho, é fundamental ter um plano de poupança sustentado e ajustado a cada perfil de poupança.
A importância de poupar de forma sustentada
Como referido na introdução deste artigo, tão ou mais importante do que o montante que consegue poupar mensalmente, é a forma como gere essa poupança. Vejamos, então, um exemplo de plano de poupança.
A primeira coisa a fazer é constituir um fundo de emergência
Se tem margem orçamental para poupar todos os meses, junte um pé de meia para uma emergência.
Tenha apenas em atenção que canalizar dinheiro para este fundo não deve ser uma tarefa ilimitada, até porque um fundo de emergência deve apenas cumprir o seu propósito: ter uma almofada financeira para suportar despesas correntes durante um determinado período de tempo (entre 6 a 12 meses), caso fique desempregado ou perca parte dos seus rendimentos.
Por exemplo, se as suas despesas mensais fixas (como a renda de casa) e despesas variáveis (como as domésticas) totalizam, em média, 800 euros por mês, o seu fundo de emergência deverá ter um valor total de 4.800 euros (800 x 6 meses).
Por outras palavras, o primeiro passo é estabelecer uma meta de poupança para este fundo e, a partir daqui, pensar em outras formas de valorizar o seu esforço de poupança.
Para melhor gerir o seu fundo, é aconselhável abrir uma conta poupança, um produto financeiro com garantia de capital e facilmente mobilizável. Nesta fase, pouco importa se a taxa de retorno é mínima ou mesmo nula, uma vez que o objetivo do fundo de emergência não é propriamente o de gerar lucro.
Depois, vencer a inércia
Constituído o seu fundo de emergência, é altura de procurar outras formas de valorizar o seu esforço de poupança. Por mais confortável que seja continuar a alimentar a sua conta poupança sem critério, há que vencer a inércia e nunca esquecer que a inflação é a principal inimiga das suas reservas financeiras.
Talvez seja mais simples perceber qual o impacto da inflação na sua poupança através de um exemplo:
Vamos supor que quer fazer uma viagem de sonho que hoje custa 3000 euros. Só tem possibilidade de canalizar para sua conta poupança (com taxa de retorno nula) 50 euros por mês, o que significa que só terá poupado o dinheiro que precisa para a viagem daqui a 5 anos.
Mas, até lá, a taxa de inflação, que representa o aumento de preços de bens e serviços, vai ser, por hipótese, de 2% ao ano. Quando chegar a altura de fazer a viagem terá 3000 euros poupados, mas, entretanto, a viagem já custará mais dinheiro:
- Ano 1: 3000 euros + (1 + 2%) = 3060 euros;
- Ano 2: 3121,20 euros;
- Ano 3: 3183,60 euros;
- Ano 4: 3247,20 euros;
- Ano 5: 3312,10 euros.
Isto significa que, desde o momento em que começou a poupar até à altura de fazer a viagem, o seu dinheiro vai desvalorizar cerca de 312 euros.
Por esta razão, importa aplicar as suas poupanças em produtos financeiros que tenham uma taxa de retorno superior à taxa de inflação, caso contrário o seu esforço de poupança será contraproducente.
Poupar e investir, as duas faces da mesma moeda
Antes de aplicar parte das suas poupanças num produto financeiro com uma taxa de retorno mais atrativa lembre-se de três coisas: pode começar a investir com pouco dinheiro; investir é um procedimento tão simples como contactar o seu gestor de conta; nunca invista naquilo que não entende.
Ter o dinheiro numa conta poupança, como demonstrado, pode não ser uma alternativa viável a longo prazo, por isso interessa procurar outras soluções financeiras (fundos de investimento, fundos PPR, seguros financeiros, por exemplo) adequadas às suas metas de poupança, mas sobretudo ao seu perfil de investidor.
A poupança e a diversificação de investimentos são duas das principais regras de ouro das finanças pessoais e, se quiser, as duas faces da mesma moeda. Ter um património diversificado significa que os seus investimentos estão menos vulneráveis às oscilações dos mercados e, deste modo, mais protegidos financeiramente. Lá diz o provérbio para “não colocarmos todos os ovos no mesmo cesto”…
No fim de contas, o objetivo é rentabilizar o seu dinheiro, valorizar o produto do seu trabalho e manter-se motivado para o exercício da poupança. Em última análise, estar preparado para um qualquer imprevisto financeiro, planear uma reforma confortável, ter os recursos de que precisa para realizar os seus sonhos.
Artigo originalmente publicado em julho de 2020. Última atualização em outubro de 2023.