Miguel Pinto
Miguel Pinto
07 Ago, 2025 - 15:00

Senhora d’Agonia: rainha das romarias anima Viana do Castelo

Miguel Pinto

Está aí uma das mais marcantes romarias portuguesas, a Senhora d’Agonia, em Viana do Castelo. Conheça todo o programa deste ano.

festas da senhora d'agonia

Durante nove dias, de 12 a 20 de agosto de 2025, Viana do Castelo volta a vestir-se de ouro, música, fé e cor com a Romaria da Senhora d’Agonia, a mais emblemática das festividades populares do país, conhecida carinhosamente como a “Rainha das Romarias”.

Muito mais do que um evento religioso, a romaria é uma celebração transversal, que une espiritualidade, património cultural, etnografia, gastronomia, folclore, artesanato e inovação.

A origem da devoção à Senhora da Agonia remonta ao século XVIII, mas os primeiros sinais de culto informal são anteriores.

Foi em 1674 que a imagem da Virgem foi colocada na capela do Bom Jesus do Santo Sepulcro do Calvário, em Viana do Castelo, onde os pescadores passaram a invocá-la como protetora contra as tormentas do mar.

Em 1772 deu-se a primeira romaria em sua honra, por iniciativa do então pároco José Antunes da Rocha, e, a partir de 1783, foi celebrada oficialmente com missa e procissão no dia 20 de agosto.

O que nasceu como uma manifestação de fé simples dos homens do mar, transformou-se ao longo dos séculos numa das mais ricas e vibrantes expressões da cultura popular portuguesa.

As mulheres vianenses, com os seus trajes de mordoma bordados a rigor e adornadas com peças de filigrana herdadas entre gerações, tornaram-se símbolo vivo da alma do Minho.

A romaria da Senhora d’Agonia, que mistura religiosidade e tradição com uma impressionante dimensão festiva e social, foi classificada como Património Cultural Imaterial e declarada de Interesse Público e Turístico Nacional.

Senhora d’Agonia: destaques do programa de 2025

A edição de 2025 chega com a promessa de manter viva a alma da romaria, mas também de a reinventar para novos públicos.

O cartaz oficial deste ano, com o mote “A Devoção que Veste a Alma”, é da autoria do fotógrafo Ricardo Sousa e do designer Ricardo Ferreira, e presta homenagem à mulher vianense e à tradição que ela carrega no corpo, no gesto e na fé.

A festa arranca a 8 de agosto com a abertura da Feira de Artesanato e Gastronomia, que se prolonga até ao final das celebrações e ocupa o Campo da Agonia com dezenas de bancas de produtos típicos, peças artesanais, doçaria e vinho verde.

Este espaço é também palco de demonstrações ao vivo de bordado à mão, cestaria, talha e ourivesaria, preservando técnicas ancestrais que fazem parte da identidade de Viana.

Desfiles marcantes

No dia 14 de agosto, o Desfile da Mordomia volta a encantar moradores e visitantes.

Centenas de mulheres desfilam pelas ruas do centro histórico vestidas com os trajes tradicionais de festa, lavradeira rica e domingueira, exibindo com orgulho os seus colares e brincos de ouro em filigrana, que podem atingir valores de milhares de euros, não só pelo custo material, mas pelo peso simbólico e afetivo que carregam.

O dia 15 é marcado pela Romaria das Crianças, ou “Romaria dos Pequeninos”, uma das grandes apostas da organização nos últimos anos.

Este evento é dedicado às gerações mais novas, que recriam os usos e costumes da região através de pequenos desfiles e oficinas criativas, permitindo o contacto direto com a cultura vianense desde cedo.

A 17 de agosto acontece um dos momentos mais aguardados: o Cortejo Histórico‑Etnográfico, este ano com o tema “História e Tradição – isto é Viana”.

Mais de 3 500 figurantes, divididos em dezenas de quadros vivos e carros alegóricos, percorrem a cidade ao som de bombos e concertinas, representando episódios da história local, ofícios antigos, tradições agrícolas e a vida quotidiana do Alto Minho.

Na noite de 18 de agosto realiza-se o imponente espetáculo de fogo de artifício sobre o rio Lima, uma tradição que atrai milhares de pessoas às margens para assistir a uma coreografia de luz e cor refletida na água.

A festa prolonga-se com o Sunset da Romaria, que decorre entre 17 e 20 de agosto, no Anfiteatro da Marina, com DJs nacionais e internacionais como Richi Risco, Cláudia León e Ari Girão.

Esta nova vertente da romaria pretende atrair um público mais jovem, misturando tradição com uma vibe contemporânea e cosmopolita.

mulheres na romaria da senhora d'agonia

Procissão solene

No dia 19, as ruas da Ribeira enchem-se de cor e perfume com os Tapetes Floridos, elaborados durante toda a noite por dezenas de moradores e voluntários.

Estes tapetes de sal e pétalas são criados para a Procissão ao Mar, um dos momentos de maior carga simbólica. Barcos engalanados recebem a imagem da Senhora, que é levada até ao cais numa cerimónia que mistura fé, arte e emoção profunda.

É uma homenagem aos pescadores e à sua relação com o mar, onde tantos perderam a vida.

O dia 20 de agosto, feriado municipal em Viana do Castelo, é o culminar da romaria. Realiza-se a missa solene campal, seguida da majestosa procissão solene pelas ruas da cidade, onde participam dezenas de andores, bandas filarmónicas, confrarias e grupos folclóricos.

a face mais devota e silenciosa da festa, aquela em que o povo caminha ao lado da sua padroeira em comunhão espiritual.

Experiência para todos os sentidos

Além dos eventos oficiais, a romaria da Senhora d’Agonia é também uma festa de rua, de convívio, de reencontros. Muitos vianenses emigrados planeiam férias nesta altura para regressar à cidade natal e viver a romaria com a família.

Os restaurantes da região servem pratos típicos como arroz de sarrabulho, rojões, pataniscas e bacalhau à moda do Minho, acompanhados por vinhos verdes da região.

O centro histórico torna-se um palco de espontaneidade, onde grupos de concertinas, ranchos folclóricos, exposições, pequenos mercados e festas informais animam cada esquina.

Para quem visita pela primeira vez, a romaria é uma imersão total num modo de vida onde o passado e o presente coexistem. Para quem regressa, é um reencontro com raízes, cheiros e sons que permanecem inalterados no tempo.

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