Catarine Martins
Catarine Martins
11 Set, 2019 - 10:29

Victoria’s Secret : diga adeus ao desfile deste ano

Catarine Martins

Já era habitual esperar pelo desfile de sonho da Victoria’s Secret. Este ano as angels não sobem à passerelle num adeus aos padrões de beleza estabelecidos.

Victoria’s Secret : diga adeus ao desfile deste ano

Todos os anos a Victoria’s Secret surpreende-nos com um espectáculo em que as modelos, mais do que desfilar, se pavoneiam, de asas às costas, com muito glamour num espectáculo que já deixou de ser apenas para mostrar a lingerie da marca. Mas, este ano, parece que isso não irá acontecer, uma vez que o desfile foi cancelado e os anjos não irão descer à Terra.

A história da Victoria’s Secret

victoria secret

Mas, comecemos pelo princípio. Fundada por Roy Raymond em 1977, a marca americana nasceu porque o fundador se sentia um pervertido sempre que queria comprar lingerie para a mulher nas lojas tradicionais.

Teve assim a ideia de fundar a Victoria’s Secret, uma loja de lingerie onde os homens se sentissem confortáveis. A decoração, inspirada na era vitoriana, era escura e misteriosa, com tapetes orientais e drapeados em seda. E, ao contrário da típica lingerie da época, a Victoria’s Secret criou um novo paradigma com peças bonitas e não enfadonhas como as que se viam até então.

O problema é que, embora os homens se sentissem bem na loja, eram as mulheres quem teimava em não entrar. Assim, em 1982 o negócio estava praticamente falido.

Foi então que Leslie Wexner entrou na equação. O visionário comprou a empresa por um milhão de dólares e modificou todo o conceito, aproximando-o do que conhecemos hoje: lojas de lingerie acessível, onde as mulheres se sentissem em casa. A decoração tornou-se floral, os padrões delicados substituíram os boudoirs e os catálogos passarem a conter produções fotográficas bonitas com que as mulheres se identificassem.

Chegávamos assim a 1995 quando a Victoria’s Secret criou o seu primeiro desfile dando às top models o papel de anjos na Terra. Era o início de uma nova era onde as modelos, mais do que simples manequins, se assumiam como parte do espectáculo.

23 anos depois e após algumas polémicas, o desfile foi cancelado. Afinal, os padrões de beleza estão mais amplos e as mulheres reais já não se revêm na perfeição que as top models de asas às costas representam. Será o adeus aos corpos perfeitos?

Diga adeus aos anjos este ano

victoria secret

A notícia chegou por meio de uma das manequins que, todos os anos, encarna o papel de anjo num dos mais aguardados desfiles do ano. Shanina Shayk revelou que, em 2019, o desfile da Victoria’s Secret não acontecerá, uma vez que foi cancelado. Ainda não se sabe se será uma decisão pontual ou, ao contrário, se a marca vai abandonar os seus anjos e começar uma nova trajetória.

É que, se é verdade que durante muitos anos as top models, com as suas caras bonitas e medidas perfeitas, formavam o ideal de perfeição a seguir por parte das meras mortais, hoje as coisas mudaram.

Estamos numa era em que as redes sociais se tornaram tendência e, cada vez mais, se apela à diversidade e ao enaltecimento de diferentes tipos de beleza que existem. Finalmente, pela primeira vez na indústria da moda, celebramos a beleza singular de cada um, sem um ideal de perfeição.

Sim, depois de anos amarradas a ideais de beleza distantes, percebemos que não importa se somos baixas, gordas, muito altas, com as medidas perfeitas ou com gordurinhas na barriga. Todas somos bonitas à nossa maneira. A confiança é o novo sexy!

A marca não se adaptou à beleza real

Contudo, a Victoria’s Secret parece não ter conseguido adaptar-se a esta nova era, insistindo em manter-se presa aos padrões de beleza que colocaram a marca no auge nas décadas de 90 e 2000. E que, claramente, começam a ficar ultrapassados. O mundo mudou, mas a Victoria’s Secret parece recusar-se a mudar com ele. Aliás, em maio deste ano Edward Razek, diretor de marketing da gigante americana, admitiu não haver espaço para modelos plus size ou transsexuais num desfile que é uma fantasia e puro entretenimento.

Depois destas declarações polémicas, muitas foram as mulheres que se insurgiram contra a marca que se demonstrou tudo menos inclusiva (embora as modelos que desfilam como anjos sejam das mais diversas etnias e nacionalidades). E, as quedas na popularidade e nas vendas refletem um descontentamento generalizado. A mensagem é clara: não queremos mulheres perfeitas, queremos mulheres reais.

Não sabemos se é caso para dizer que esta é uma história de anjos caídos ou se a marca está apenas a fazer uma pausa para voltar renovada e ainda melhor.

Só o tempo dirá se continuaremos a sonhar com os anjos ou não.

Veja também