Valdemar Jorge
Valdemar Jorge
08 Mar, 2024 - 15:10

Peugeot 504: glamour francês no carro que marcou uma era

Valdemar Jorge

O Peugeot 504 durante 15 anos de bons serviços desfilou o glamour francês pela Europa. Conheça a história deste clássico.

Peugeot 504

1968. A França vivia um dos momentos mais conturbados da sua história recente. Maio de 1968 foi um movimento político marcado por greves gerais e ocupações estudantis. É pois com este pano de fundo que a Peugeot estreia em 12 de setembro de 1968, no Salão Automóvel de Paris, o seu Peugeot 504.

Reza a história que a apresentação do modelo à imprensa, programada para junho, foi adiada à última hora, precisamente por causa dos tumultos que atormentavam a França.

Esta decisão adiou, igualmente, a produção do 504, e tudo devido ao impacto que o movimento Maio de 1968 teve, não só ao nível da política, mas também na indústria.

Setembro de 1968 é pois o mês que marca o início da comercialização do que, anos mais tarde, viria a ser considerado um dos automóveis com mais glamour da Peugeot. Hoje é um clássico.

O modelo chegou aos concessionários com motor de 1.796 cc (com injeção de combustível opcional), transmissão manual de quatro velocidades ou, em opção, automática de 3 velocidades.

Peugeot 504: Carro Europeu do Ano em 1969

O Peugeot 504 esteve em comercialização na Europa de 1968 a 1983. No entanto, em países como Argentina (1969-1999), Nigéria (1968-2005) ou Quénia (1968-2004), a produção prolongou-se por mais uns anos.

A estes países acrescente-se ainda o sucesso conquistado por outras paragens, pelo desempenho e robustez. É o caso da Austrália, Chile, Nova Zelândia, Egito, Portugal e Tunísia.

A boa aceitação do modelo com linhas modernas, chassis de qualidade, motorizações duradouras e inovação tecnológica, foram ingredientes que contribuíram para receber, em 1969, o galardão de Carro Europeu do Ano. O prémio, atribuído pelos mais prestigiados jornalistas do setor automóvel, foi o primeiro que a Peugeot alcançou.

Com 4,486 metros de comprimento, o sedan 504 era ligeiramente mais curto que a carrinha, que tinha 4,800 metros de comprimento. Ambos evidenciavam conforto no habitáculo e bagageira generosa.

A versatilidade do 504 tornou-o num modelo capaz de se apresentar com diversas carroçarias. Além do sedan e carrinha (1971) foi produzido nos formatos coupé, cabriolet (ambos em 1969), pick-up de cabine simples e cabine dupla (1979).

Assinatura Pininfarina

Com estilo marcante o Peugeot 504, que saiu do lápis de Pininfarina, facilmente conquistava adeptos, pelas formas ousadas, à época.

Com ele, a marca francesa introduziu um novo estilo contemporâneo. Aliás, foi o primeiro Peugeot a integrar os grandes faróis de formato de trapézio, que o designer italiano descreveu como sendo “os olhos de Sophia Loren”. A grelha cromada ostentava o símbolo do leão, bem ao centro da seção frontal.

Uma das suas caraterísticas era a linha descendente da tampa da bagageira (não agradava a todos), mas enquadrava de forma harmoniosa o conjunto, onde se destacavam os farolins, em formato boomerang e o para-choques cromado, tal como o da seção dianteira.

No habitáculo o destaque ia para o painel de instrumentos que juntava de forma harmoniosa velocímetro, conta-rotações, medidores de combustível, temperatura da água e manómetro de óleo e difusores de ar, entre outra informação. O volante era de quatro raios e ostentava ao centro o símbolo do leão.

O espaço não era problema, quer nos lugares do condutor e passageiro, quer nos lugares do banco traseiro. E esse espaço tinha reflexo ainda na bagageira de 459 litros, no caso do sedan.

Já a versão carrinha do 504 reclamava ainda mais espaço. A bagageira contava com 1.100 litros de capacidade. O espaço nesta versão era tão generoso que a Peugeot chegou a disponibilizar versão com opção de banco adicional para mais duas pessoas, totalizando assim a possibilidade da carrinha 504 acomodar até 7 passageiros.

Note-se que os elementos de estilo introduzidos pelo Peugeot 504 tiveram continuidade em modelos vindouros como o 206, 407 ou o 607.

Peugeot 504 na estrada
O Peugeot 504 foi um sucesso de vendas para a marca francesa

Peugeot 504: inovação tecnológica

O Peugeot 504 inovou não só no design, mas também na tecnologia. O modelo francês incluía travões de disco assistidos, suspensão traseira independente e, dependendo da versão, o equipamento podia integrar de série cintos de segurança, rádio com leitor de cassete, estofos em pele, direção hidráulica, vidros elétricos ou ar condicionado.

As versões coupé e cabriolet, ambas de duas portas, chegaram ao mercado em 1969, sendo apresentadas no Salão Automóvel de Genebra, em março daquele ano.

Inicialmente a motorização escolhida para estes modelos seria a mesma do Sedan, com injeção de combustível. Mas acabou por sofrer ligeira alteração na relação final que permitiu dar uma velocidade maior às 1.000 rpm.

Uma forma de diferenciar os modelos coupé e cabriolet, ao dotá-los de andamento mais desportivo.

As mecânicas eleitas para o Peugeot 504 foram os motores a gasolina 1,8 litro de 80 cv; 2.0 litro com 105 cv e o poderoso V6 2.7 litro que debitava 138 cv. Na pick-up estava disponível, em alguns mercados, o 1.6 litro a gasolina que debitava 62 cv.

Nos diesel a oferta incluiu os blocos 1.9, 2.1 e 2.3 litros associados a caixas manuais de 4 ou 5 velocidades; bem como, uma caixa de velocidades automática de 3 velocidades.

Detalhes que contribuíram para o sucesso

O Peugeot 504 destaca-se ainda por ser exemplo de inovação no que se refere à introdução de versões com melhor acabamento. Em 1972 surgia a versão GL, com melhor acabamento no habitáculo. Recebia teto solar, estofos em pele, apoios de cabeça nos bancos dianteiros, rádio com cassete e ar condicionado. Esta versão GL tinha ainda vidros verdes e os dianteiros tinham acionamento elétrico.

No topo da oferta, a Peugeot colocava a versão TI equipada com injeção kugelfisher, mais potente, e que debitava 110 cv e atingia os 173 km/h de velocidade máxima.

Dois outros detalhes distinguiam o Peugeot 504. Um era o acionamento da buzina, colocado na alavanca das luzes de direção. O outro, o contacto de ignição à esquerda do volante, a exemplo do que se encontrava em marcas como a Lada ou a mais elitista Porsche.

Peugeot 504: viatura de trabalho

Em 1979 a Peugeot adaptou o 504 ao formato pick-up e, embora a carroçaria fosse monobloco, suportou bem a introdução de uma suspensão com feixes de molas.

O modelo mantinha o eixo traseiro da carrinha, sem as quatro molas e suporte superior, embora mantendo os tirantes em “V”.

O modelo robusto e com boa capacidade de carga chegou a receber versão 4×4, de quatro rodas motrizes.

A primeira versão do Peugeot 504 pick-up, podia transportar 1.100 kg com um motor 1.6 litro, que debitava 62 cv. O 1.9 litro diesel desenvolvia parcos 49 cv. O tanque de combustível, com 50 litros de capacidade, estava montado atrás da cabine, que acomodava até 3 pessoas.

Devido à fraca potência deste motores a marca francesa apostou em novas motorizações, com a escolha a recair no bloco 1.8 litro, de 80 cv, a gasolina e no diesel de 2.3 litro, que debitava 70 cv.

Um “monstro” nos ralis

O Peugeot 504 tem também na sua história um capítulo dedicado ao desporto. Pela robustez, diversos jornalistas apelidaram-no, nos anos 70, como “Rei do Deserto” ou mesmo “Especialista do Deserto”, pelos feitos conquistados em ralis no continente africano.

O modelo de rali teve participação em diversas provas na África e ainda hoje colhe rasgados elogios dos tempos em que era conduzido por Jean Guichet (piloto) que teve como co-piloto Jean Todt (presidente da Federação Internacional do Automóvel entre 2009 e 2021), que em 1979 venceram o Rali da Argentina.

A primeira vitória do Peugeot 504 (grupo 1) em provas de rali aconteceu, no entanto, em 1971, no Rali de Marrocos, tendo ainda averbado o segundo lugar absoluto. Mais tarde, em 1975, venceu o Rali de Marrocos, o Bandama na Costa do Marfim e o East African Safari.

A robustez do modelo ficou bem patente no Bandama onde foi pilotado por Ove Anderson e Hannu Mikola. Na prova, realizada em 1975, partiram 52 automóveis e só seis chegaram ao fim da competição. O Peugeot 504 ficou em primeiro, quarto e sexto lugares. O principal rival, o Datsun 180 B, ficou nas posições intermédias.

A proeza viria a repetir-se em 1976 em Marrocos, pelas mãos de Jean Pierre Nicolas, e no Bandama, com Timo Makkinen. O motor do carro francês chegou a debitar 170 cv de potência às 7.000 rpm (versão 504 Turismo Grupo 2 para os ralis africanos).

Em 1976 voltaria a vencer com Jean Pierre Nicolas no Rali Safari e no Bandama.

O glamoroso Peugeot 504 teve ainda honras de “artista” no cinema ao evoluir em frenéticas perseguições no filme “For Your Eyes Only” (1981) da série James Bond ou como viatura de serviço do intrépido Comissário Dreyfuss da série Inspector Clouseau.

Mas é o magnetismo do seu design que está evidente no projeto da marca francesa para dar corpo à transição energética: o e-LEGEND CONCEPT, que traduz a visão da Peugeot para um futuro “otimista e ultradesejável”, como refere.

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