Bárbara do Carmo
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03 Dez, 2020 - 11:52

Rotas do Contrabando: viagem pelos trilhos mais secretos

Bárbara do Carmo

De norte a sul há várias rotas do contrabando, muitas agora esquecidas. Contam histórias de amor e saudade, perigos e sacrifícios. Uma viagem ao passado.

Rotas do contrabando em Mértola

A memória coletiva nacional é fortemente marcada pelas viagens a salto para França, nos anos 60, para fugir à guerra colonial, mas também pelas rotas do contrabando feito ao longo de toda linha fronteiriça.

Foram os anos duros da ditadura Salazarista (cá), e lá, do outro lado da raia, o Franquismo, que levaram centenas de pessoas a percorrerem longos e perigosos quilómetros, carregadas de mercadoria de um lado para o outro.

Contrabandeava-se tudo, desde vestuário e calçado, a produtos alimentares, como ovos, azeite, pão, até aos produtos mais valiosos, como tabaco, café, perfumes e gado.

Atualmente, os caminhos do contrabando são corridos por histórias e memórias que se perpetuaram no tempo. Para que não caiam no esquecimento, traçamos quatro rotas de contrabando para se perder nestas férias.

Rotas do Contrabando: testemunhos do passado

Rotas do contrabando no Minho

Trilho de Melgaço, Monção e Valença

No ponto mais a norte do país, as rotas do contrabando desenhavam-se ao longo da fronteira entre o Alto Minho (Melgaço, Monção e Valença) e a Galiza, nomeadamente em cidades fronteiriças como Tui. Produtos como café, perfumes ou sabonetes, passavam entre um lado e outro, nos meandros escondidos e bem conhecidos dos contrabandistas.

Também o volfrâmio e ouro faziam parte da carga. Neste ponto extremo do país são vários os locais que nos remetem para este passado – a começar pelo Espaço Memória e Fronteira, em Melgaço, para além de várias caminhadas pedestres organizadas nas três localidades

  • Como ir? Apanhe a A3 até Valença e depois a N101 até Melgaço.
  • Onde ficar? Em Melgaço fique na Casa Cova dos Anhos ou na Casa da Bica. Se preferir dormir em Valença,  existem várias opções bem no centro da cidade. 
  • Onde comer? A gastronomia minhota é de deixar qualquer um com água na boca – desde os enchidos, ao mel até ao vinho verde, cada vez mais famoso no país, as opões são infinitas para quem quiser explorar esta região.

Trilho de Tourém, Montalegre

Em Montalegre o contrabando fazia-se entre as aldeias de Tourém e Randín, ao longo da albufeira de Sallas. A rota do contrabando faz-se num percurso de 11 quilómetros, por estradas, campos de cultivo, seguindo a direção do rio Sallas. Este é um percurso que exige alguma preparação física, sendo classificado como nível  médio em termos de dificuldade. Enquanto se caminha pela rota do contrabando, é possível apreciar a paisagem parada no tempo e espelhada na albufeira, para além de alguns pontos de interesse, como a capela de S. Lourenço e o Ecomuseu de Barroso.

  • Como ir? Para chegar a Tourém deve seguir pela A3/E1, IC28, N203 e N304-1. De Tourém a Montalegre siga pela EM308 e EM513.
    Onde ficar? Em Montalegre existem várias opções de Turismo Rural, como a Casa da Avó Chiquinha. Se preferir ficar mais perto de Tourém o mais fácil será pernoitar em Pitões das Júnias, na Casa do Preto ou na Casa da Fonte.
    Onde comer? Opções não faltam e a preços bastantes convidativos. A carne barrosã faz parte do menu, e quem visita esta zona não pode vir embora sem a saborear.
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Salvaterra do Extremo

Já no centro do país, na zona da Beira Baixa, o contrabando fazia-se entre Salvaterra do extremo, Idanha-a-Nova, e Zarza La Mayor. Foi durante a Guerra Civil Espanhola que o contrabando atingiu o seu ponto máximo: produtos como farinha, pão, azeite, gado suíno, gado cavalar, tripa de porco, café e tecidos rumavam a Espanha às costas dos contrabandistas.

Um percurso de 10 quilómetros separa os dois pontos de carga e descarga de mercadoria, atravessando-se o Rio Erges. No coração do Geopark Naturtejo, Salvaterra do Extremo oferece, para além dos caminhos do contrabando, uma paisagem, fauna e flora ímpares, sendo uma excelente opção para os amantes de natureza.

  • Como ir? Quem vem de Lisboa deve apanhar a A23 no sentido Castelo Branco seguido da N240. Para quem vem do Porto deve seguir pela A13 e IC8 para tomar a A23 no sentido Castelo Branco.
    Onde ficar? A Casa do Forno mesmo em Salvaterra do Extremo, ou o Hotel Fonte Santa, em Monfortinho.
    Onde comer? Perca-se pelos queijos e azeites das beiras e experimente o Restaurante Helana, em Idanha, ou as costeletas de borrego do Petiscos & Granitos na aldeia de Monsanto.
Ponte antiga de Mértola

Mértola e Alcoutim

Entre o Baixo Alentejo, Algarve e Andaluzia também se contrabandeava de tudo um pouco. Homens e mulheres seguiam durante a noite por trilhos escuros e vigiados pela guarda fiscal e pelos famosos carabineiros (do lado espanhol) com o objetivo de cruzar a fronteira. Na região de Alcoutim existem vários percursos pedestres que passam por cerca de 14 postos da guarda fiscal, muitos hoje em ruínas.

O primeiro percurso começa na vila de Alcoutim e termina em Várzeas da Lourinhã, com uma duração aproximada de duas horas e meia (5,5 quilómetros). Outro percurso, começa e acaba no Miradouro do Pontal (entre Alcoutim e Guerreiros do Rio) e faz-se ao largo do Rio Guadiana, percorrendo uma distância de 6 quilómetros.

Um pouco mais para norte, na zona de Mértola, existem alguns pontos de interesse a propósito do contrabando, como Museu do Contrabando, em Santana de Cambas e as Minas de S. Domingos, ponto de partida para alguns contrabandistas.

  • Como ir? Os principais acessos a Mértola são: IP2 e EN 122 – Beja – V. Real de Santo. António que liga à A22 de acesso a Espanha e toda a região do Algarve; EN 123 – Mértola -Castro Verde que dá acesso à A2 que liga Lisboa ao Algarve; EN265 – Mértola –Serpa; EN267 – Mértola – Almodôvar que dá acesso à A2 que liga a Lisboa e ao Algarve.
  • Onde ficar? As opções de alojamento são variadas, pode escolher ficar em Mértola na Quinta do Vau, ou no Hotel Museu, para além das infinitas opções de alojamento local. Se optar por dormir em Alcoutim o Hotel d’Alcoutim ou a Pousada da Juventude são boas opções.
  • Onde comer? A gastronomia algarvia é muito rica e diferenciada. Nesta zona procure por restaurantes que sirvam pratos de caça, como a Taberna do Ramos, ou as sopas de tomate, migas com carne de porco, ou o ensopado de enguias, do Cantarinha do Guadiana.

Aceite as sugestões, faça-se ao caminho e descubra os trilhos das histórias do contrabando, que marcaram o passado recente da Península Ibérica, enquanto explora o interior de Portugal.

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