Catarina Milheiro
Catarina Milheiro
27 Dez, 2022 - 09:40

Cada vez mais as empresas contratam pessoas com mais de 55 anos

Catarina Milheiro

As empresas contratam pessoas com mais de 55 anos com mais frequência. Saiba o que leva os recrutadores a tomarem estas decisões.

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Sabia que as empresas contratam pessoas com mais de 55 anos com mais frequência do que há uns anos? É verdade. Ao contrário do que muitas pessoas possam pensar a tendência tem vindo a inverter-se e a procura por talentos passa também por profissionais mais velhos.

Até 2050 a população mundial com mais de 60 anos deverá ultrapassar os 2 mil milhões de pessoas – o que significaria cerca de 20% da população total estimada para a data.

Segundo o Eurostat, o nosso país apresenta um dos piores cenários da Europa – visto que se espera que perca 28% da população ativa, em comparação com os 15% que eram expectáveis.

Ora, sendo Portugal o 4º país mais envelhecido da Europa, são muitos os desafios no que toca a proporcionar um envelhecimento ativo. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, em 2011, a taxa de emprego para quem tinha entre 55 a 64 anos era de 40% (sendo somente 5,9% para aqueles acima dos 65 anos).

Atualmente, a taxa de emprego que compreende a faixa etária entre os 55 e os 64 anos já subiu para os 66,5%, estando agora nos 9,3% a empregabilidade acima dos 65 anos.

Empresas contratam pessoas com mais de 55 anos: quais são os motivos?

Hoje em dia, as empresas estão cada vez mais despertas para os problemas que se começam a sentir no que diz respeito também às necessidades das pessoas em geral.

A falta de mão de obra que se tem vindo a sentir e que se vai agravar nas próximas décadas faz com que as organizações se preparem e comecem a idealizar programas para sensibilizar e combater o idadismo (preconceito com base na idade). Ao mesmo tempo, mantém os seus recursos humanos ativos por mais anos.

Assim, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou como tema prioritário para esta década o envelhecimento ativo e saudável. O que fez com que esta passasse também a ser uma das preocupações de algumas grandes empresas mundiais.

Tendo por base um estudo da Comissão Europeia sobre o setor, dar emprego a pessoas com mais de 50 anos tem definitivamente um impacto positivo na economia e pode realmente ajudar a expandir o valor que as pessoas acima desta faixa etária irão gastar em bens e serviços.

Além disso, contratar pessoas com currículos mais extensos, maduras, com sentido de responsabilidade mais apurado e claro, com mais experiência é uma mais-valia para qualquer empresa atualmente.

Apesar haver uma procura constante por talentos jovens, a verdade é que as empresas contratam cada vez mais pessoas acima dos 55 anos e em Portugal, o cenário não é diferente.

Mulher a fazer contas

Há empresas que realizam este tipo de contratos em Portugal?

A verdade é que parece ainda existir uma dificuldade enorme em encontrar trabalho depois dos 50 anos. Mas a tendência é para o cenário mudar, à medida que as tendências surgem.

Se repararmos, há várias empresas que preferem contratar talentos mais maduros por diversos motivos: seja pela experiência, pelo background, pelas qualificações ou até pela confiança e compromisso.

Tal acontece cada vez mais, talvez devido ao facto de as gerações mais recentes demonstrarem uma atitude perante o trabalho um pouco diferente do que as empresas estavam habituadas. E, por isso mesmo, algumas preferem reter talentos que saibam que podem confiar a 100%.

Por outro lado, os profissionais acima dos 50 não podem deixar de ser valorizados simplesmente pela idade. Afinal, todos chegaremos a essa idade e todos iremos querer trabalhar e sentirmo-nos úteis e valorizados.

A Ageless Portugal é uma das organizações que se tem vindo a dedicar à promoção de uma mudança de comportamentos relativamente à valorização da sabedoria dos maiores de 55 anos.

O objetivo desta empresa é favorecer a inclusão de todas estas pessoas e combater os preconceitos com base na idade. A fundadora Mónica Póvoas afirma que este preconceito se apresenta “de diversas maneiras no mercado de trabalho, a não inclusão de pessoas mais velhas nos processos seletivos, em processos de aceleração de carreira ou desenvolvimento, políticas de reforma antecipada, desvalorização do profissional que envelhece na organização, entre outros.”

Além disto, explica ainda que “nas organizações, quem abrir oportunidades de atração e retenção, assim como desenvolver novas estratégias de reskilling e upskilling continuará a contar com uma mão de obra produtiva, motivada e capaz de contribuir para a inovação nos negócios”.

Existem programas para integrar perfis séniores?

Como vemos, as empresas estão de facto mais abertas à contratação de pessoas com mais de 55 anos por diversos motivos. No entanto, a existência de programas para integrar este tipo de perfis é sempre uma ajuda, principalmente para os candidatos.

Desta forma, a Ageless Portugal criou este ano o Selo de Mérito Age Friendly. A primeira acreditação do género no nosso país, para certificar empresas e garantir que cumprem as melhores práticas no que diz respeito às gerações mais experientes.

Foram inúmeras as candidaturas, tendo a Axians Portugal sido a primeira empresa a ser certificada.

Também a dNovo – associação fundada pela Semapa e pelo Santander – tem como objetivo ajudar profissionais qualificados, com mais de 50 anos, a voltarem ao mercado de trabalho.

Desta associação já fazem parte empresas como o Banco Montepio, Egor, ANA Aeroportos, Bosh e a Randstad.

Para além disto, existe também a plataforma 55 Mais, que conta com mais de 2800 especialistas inscritos. Já proporcionou 28 mil horas de trabalho remunerado aos maiores de 55 anos que se inscrevem para prestar serviços.

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